quinta-feira, 9 de julho de 2009

Lição 14 - Os livros do Antigo Testamento foram abolidos por Cristo?

II CORINTIOS 3:14
Esse texto ensina que os livros do Antigo
Testamento foram abolidos por Cristo?

Autor: Pastor José Lima de Farias Filho
Lição Bíblica 273, sábado, 31 de dezembro de 2005

OBJETIVO: Mostrar ao estudante o sentido teológico do que Paulo diz, em II Co 3:14, e conscientizado de que tanto o Antigo quanto o Novo Testamento são a única regra de fé e prática para a sua vida.

TEXTO BÁSICO: Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo é removido.(II Co 3:14)

INTRODUÇÃO: Nos treze estudos anteriores, aprendemos que os textos, seja um versículo, um capítulo ou um livro, sempre devem ser interpretados à luz do seu contexto, a fim de que a verdade da Bíblia, não a nossa, prevaleça. Neste último estudo desta série, usaremos essas regras interpretativas para que possamos compreender o ensino apresentado pelo apóstolo Paulo, em II Co 3:14. Esse texto nos dá a oportunidade de refletirmos sobre um dos pontos principais que distinguem o Antigo Testamento do Novo Testamento ou a antiga aliança da nova aliança. A questão a ser respondida é esta: O fato de Deus ter feito uma nova aliança com seu povo anula o conteúdo na velha aliança?

I – A INTERPRETAÇÃO ERRADA

Muitos cristãos argumentam que o Antigo Testamento caducou, isto é, perdeu sua validade como palavra de Deus. Esses irmãos compreendem que o conteúdo do Antigo Testamento expressa a antiga aliança que Deus fez com o povo judeu, mas que perdeu o seu valor, em razão de esse povo não ter cumprido sua parte no acordo, o que fez com que o Senhor realizasse uma nova aliança, tornando a outra sem efeito algum. Desta forma, os filhos da nova aliança, feita por Jesus Cristo, na cruz, devem ignorar os preceitos do Antigo Testamento e moldar sua vida pelos preceitos da nova aliança, expressos no Novo Testamento. As palavras de Paulo, em II Coríntios 3:14, são utilizadas para provar que o Antigo Testamento passou e que os que crêem nele não perceberam isso, porque seus entendimentos estão embotados, isto é, eles lêem e acreditam na antiga aliança, mas não a compreendem, porque uma espécie de véu encobre-lhes o entendimento, pelo fato de não entenderem o verdadeiro sentido espiritual da obra de Cristo. Os que interpretam II Co 3:14 dessa forma usam, ainda, II Coríntios 4:3-4 para afirmar que os cristãos que crêem no Antigo Testamento como palavra de Deus estão com suas mentes endurecidas pelo diabo.

II – A INTERPRETAÇÃO CERTA

Em primeiro lugar, é importante verificarmos o propósito geral da segunda carta aos Coríntios: expressar a alegria pela reação favorável da igreja ao ministério de Paulo (vv. 1-7), relembrar aos irmãos o compromisso que deveriam ter para com as ofertas aos irmãos da Judéia (8-9) e defender a autoridade apostólica de Paulo (vv. 10-13). Quando o apóstolo começou a se referir aos pormenores sobre sua pessoa (4:8-18, 11:22-33), especificou algumas características de seu apostolado, enfatizando que a base de sua pregação é a nova aliança feita por Jesus Cristo, na cruz (II Co 3:4-18). Para mostrar a superioridade da nova aliança, quanto a sua eficácia para a salvação dos pecadores, inevitavelmente, Paulo teve de compará-la à antiga aliança. Ao fazer essa comparação, o apóstolo jamais ensinou que o conteúdo do Antigo Testamento perdeu a sua força como palavra de Deus.

Que Bíblia o apóstolo Paulo usava para pregar sobre a nova aliança? Como não havia o Novo Testamento, o apóstolo pregava sobre a nova aliança baseado na velha aliança, o Antigo Testamento. Leia os textos a seguir para comprovar isso: At 28:25, 13:16-41, 15:15-18, 17:22-31, 24:14-16, 26:6-23; Rm 1:17, 13:9, 16:26; I Co 9:9, 14:21, 15:45; Gl 4:22,27; Ef 6:2, 9:13, 10:15, 11:26. Ora, se Paulo tivesse dito, em II Co 4:13, que a nova aliança havia anulado o conteúdo do Antigo Testamento, cometeria grave incoerência, já que havia utilizado o seu conteúdo, durante todo o tempo de seu ministério apostólico, afirmando que o Antigo Testamento é palavra de Deus.É verdade que O Velho Testamento não se tornou Novo Testamento (as duas alianças não podem ser confundidas), mas tornou-se um novo Velho Testamento, para Paulo.[1]

Sabendo que Paulo tinha como base de sua fé o Antigo Testamento e que foi o homem mais usado pelo Espírito Santo para escrever e explicar o real sentido da nova aliança, o que ele está ensinando em II Co 3:14? No contexto imediato deste texto, vemos que Paulo estava sendo acusado por judeus opositores, membros da igreja em Corinto, de pregar uma nova versão para a revelação de Deus, que já estava escrita no Antigo Testamento, de forma que esses opositores acusavam o apóstolo de obscurecer o que estava claro nos escritos de Moisés e dos profetas. A essa acusação, Paulo respondeu da seguinte forma: ... pelo contrário, rejeitamos as coisas que, por vergonhosas, se ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade. (II Co 4:2-3)

Ele disse isso para melhor esclarecer o que dissera no capítulo 3, quando iniciou o debate sobre a nova aliança, tema que, para esses líderes acusadores, era algo incompreensível, devido à visão estreita que tinham do Antigo Testamento, o que os impedia de ver que a velha aliança apontava para a nova aliança. Por isso, Paulo lhes disse: ... se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.(II Co 4: 4-5)

Incrédulos! Essa é a definição do apóstolo para os judeus que liam o Antigo Testamento e não enxergavam que as profecias ali contidas apontavam para Cristo, o protagonista da nova aliança. Paulo mostrou que ler a antiga aliança e não ver nela a graça de Deus, não enxergar nela as promessas divinas de fazer um novo concerto com seu povo, através de uma nova aliança (Jr 31:31; Ez 11:19), é estar sob a influência do deus deste século. Os judeus opositores de Paulo resistiam a essa verdade, assim como os judeus opositores de Cristo lhe resistiram, o que levou Jesus a lhes dizer: Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. (Jo 8:44) Nesse ambiente de oposição, de resistência à verdade, de cegueira espiritual, de insistência em não enxergar a verdade prescrita no Antigo Testamento, é que Paulo declara: Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo é removido. O que Paulo está atacando é a incapacidade espiritual ou a dureza de coração de seus opositores, e não o conteúdo dos livros do Antigo Testamento. Eles liam a antiga aliança, mas não enxergavam que Jesus era o cumprimento dela, como ele próprio declarara: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. (Lc 24:44)

Para que seus opositores fossem iluminados e compreendessem a função da antiga e da nova aliança, e fossem definitivamente libertos, Paulo fez uma comparação entre a pregação de Moisés (o escritor das santas leis divinas) e ele próprio (o escritor da graça divina). O primeiro é representante da aliança da letra, que mata (porque mostra os pecados cujo salário é a morte), mas, ao mesmo tempo, é gloriosa; o segundo é representante da aliança do espírito, que vivifica, e, por isso, é ainda mais gloriosa. Leia II Co 3:6-11 para compreender como Paulo considera superior a nova aliança feita por Cristo (sem ela, o ser humano não será salvo), mas o faz sem desmerecer a antiga, declarando que esta se revestiu de glória. Esta mesma questão Paulo esclareceu aos cristãos de Roma (Rm 11:7-12).

Até aquele momento em que Paulo escrevia, os escritos de Moisés eram lidos, mas o véu da incredulidade, da falta de iluminação espiritual, impedia que a verdade lhes entrasse no coração (II Co 3:15). Em seguida, o apóstolo diz que: Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado (II Co 3:16). Mas essa conversão só aconteceu porque o Espírito Santo agiu, libertando-os: Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade (II Co 3:17 – cf. Jo 16:7-8) Agora, libertos, ... todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito. (II Co 3:18) Paulo, portanto, em II Co 3:14, não ataca os livros do Antigo Testamento, mas enaltece a eficácia salvífica da mui gloriosa nova aliança, prescrita na gloriosa antiga aliança, deixando claro que a função do novo acordo, feito na cruz, por Cristo, não é inutilizar a palavra de Deus, mas promover a remissão de pecados e conduzir os salvos à vida eterna (I Co 11:25; II Co 3:6 – cf. Mt 26:28; Mc 14:24; Hb 9:15, 12:24).

CONCLUSÃO: Muitas pessoas se dirigem ao Antigo testamento com palavras depreciativas e desrespeitosas. Todavia, essa não é uma atitude prudente, visto que o Novo Testamento, referindo-se ao Antigo, declara: Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. (II Tm 3:16-17) Toda a Escritura é inspirada, até mesmo as partes que o Novo Testamento declara serem “sombras” da nova aliança, como no caso das leis que regiam os transitórios sacrifícios de animais. Por serem palavras de Deus, não podem ser descartadas, visto que são úteis para nos ajudar a compreender as verdades permanentes. Sigamos o exemplo do protagonista da nova aliança, o Senhor Jesus Cristo, que, ensinando com a Bíblia de seu tempo, o Antigo Testamento, declarou: Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas. Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. (Mt 7:12; 22:40; Jo 5:39)

QUESTIONÁRIO:

1) Como os defensores da extinção da lei de Deus interpretam II Co 3:14?

2) Como os defensores da extinção da lei de Deus interpretam II Co 4:3-4?

3) Qual era a Bíblia que Paulo usava em suas pregações? (At 28:25, 15:15-18, 24:14-16; Rm 13:9; Ef 6:2; I Co 9:9; Gl 4:22,27).

4) Antes de explicar o sentido correto do texto básico, leia o segundo comentário e explique seu contexto imediato (II Co 3:13, 15:18, 4:2-4).

5) Agora, explique a interpretação correta do texto básico (II Co 3:14).

6) Da interpretação correta e da interpretação incorreta, que lições você tira para a sua vida espiritual?

________________________________________

[1] Comentário Bíblico Broadman. Rio de Janeiro: Juerp, 1985, Vol. 11, p. 39.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails