quarta-feira, 22 de julho de 2009

Projeto Santificar | Vidas que ensinam Santidade

Mensagem bíblica para o último sábado do 1º trimestre de 2009
“LIDANDO COM A SEDUÇÃO” (Download)

Mensagem bíblica para o último sábado do 2º trimestre de 2009
"LIDANDO COM O ATIVISMO” (Download)

Mensagem bíblica para o último sábado do 3º trimestre de 2009
"LIDANDO COM A CULTURA” (Download)

Mensagem bíblica para o último sábado do 4º trimestre de 2009
"LIDANDO COM O CONFLITO” (Download)

Dia do Pastor Promessista


Homenagem a um
santo homem de Deus

“Eis que tenho observado que este que passa sempre por nós é um santo homem de Deus” (II Re 4.9).

Qual o conceito que as pessoas em geral têm do pastor? Quem dera todos tivessem uma percepção senão igual, ao menos próxima da que tinha a mulher sunamita a respeito do profeta Eliseu, cujo personagem analisamos para representar a figura do pastor. Ela disse a seu marido: “Eis que tenho observado que este que passa sempre por nós é um santo homem de Deus”.

Quero chamar a atenção para duas expressões contidas nesta declaração. A primeira é “tenho observado”. Note que tal declaração não tinha como causa primária uma espécie de revelação do Espírito Santo (algo sobrenatural), embora reconheçamos sua influência nessa declaração. A constatação de que Eliseu era um santo homem de Deus aconteceu após um período de observação quanto à sua maneira de ser, de pensar e de agir.

Uma forte relação de confiança foi desenvolvida entre Eliseu e a mulher sunamita, até que ela propôs ao seu marido a construção de um pequeno quarto em sua residência, exclusivamente para hospedarem-no sempre que passasse por ali. Eis aqui um indicativo de que um santo homem de Deus, o pastor, é pessoa digna de confiança.

A segunda expressão é “este que passa sempre por nós” . Isso revela o comportamento de um homem que se relacionava com as pessoas, que as visitava em suas casas e que as conhecia de perto. Eliseu ilustra uma importantíssima ação pastoral que demonstra a preocupação e o cuidado do pastor para com as pessoas redimidas por Jesus.

Há outra atitude do profeta Eliseu que merece destaque e está registrada em II Reis, cap. 5. 15 e 16. Após ter sido utilizado por Deus como instrumento para a cura de Naamã, chefe do exército do rei da Assíria, este ofereceu presentes a Eliseu, porém, ele nos ensinou duas lições dignas de louvor. A primeira é que um santo homem de Deus não é um mercenário, ou seja, não usa o nome de Deus, a Palavra de Deus, e muito menos o poder de Deus, em proveito próprio, objetivando lucrar com isso. A pecha de mercenários, atribuída a pastores que se autodenominam homens de Deus – situação muito comum nos nossos dias, infelizmente - não se harmoniza com o caráter e tampouco com as ações de um “santo” homem de Deus, reconhecido como tal, não por si mesmo, mas pelos outros.

A segunda, é que um santo homem de Deus não adota um comportamento de bajulação para com os mais favorecidos financeiramente, nem para com as pessoas investidas de autoridade, como se elas fossem mais importantes e merecedoras de maior respeito e de maior consideração em relação às demais. Eliseu nos mostra que um santo homem de Deus não se submete a isso e nem precisa desse tipo de artifício em seu ministério. Observe o tratamento dado a Naamã em II Reis 5.9-11.

Por fim, outro aspecto que pesou para credenciar o profeta Eliseu como um santo homem de Deus, foi sua autoridade espiritual, exercida não com base em conhecimento teórico, mas como fruto de sua vida com o próprio Deus.

Caríssimo pastor promessista, sabemos que você é um pequeno servo do Deus Altíssimo. Considere-se assim, aja assim e viva assim. Por outro lado, como consequência de sua maneira de ser e de servir, a exemplo do profeta Eliseu, almejamos que as pessoas e as igrejas que você pastoreia ou já pastoreou tenham-no em alta estima e consideração, assim como nós o temos.

A Ele, por Ele e para Ele, toda a honra e toda a glória, hoje e sempre. Amém!

Diretoria Geral Executiva

Extraído do Portal IAP.

terça-feira, 14 de julho de 2009

O que é neopentecostalismo?



ARTIGO BÍBLICO

Em Defesa da Fé Promessista.
O que é neopentecostalismo?

Introdução
: Tanto o Pentecostal como o Neopentecostal são definidos por sua teologia. É a teologia que caracteriza a identidade de cada um, por isso, o melhor é analisarmos historicamente e teologicamente a trajetória dos dois grupos cristãos.

Os pentecostais

O movimento pentecostal surgiu nos Estados Unidos em Topeka, Kansas, no início do século XX. Influenciado pelo movimento pietista de comunhão com Deus através do estudo das Escrituras, movimento este que teve início em 1635.
Charles Parham fundou uma escola com a finalidade de estudar a Bíblia e buscar o avivamento de Atos capítulo 2. Um de seus estudantes, chamado Seymour passou a promover reuniões, em casas da cidade e, no dia 6 de abril de 1906, numa dessas reuniões, um menino de 8 anos falou em línguas, seguido de outras pessoas. Iniciava-se, assim, pelo menos formalmente, o movimento pentecostal.

Ênfase Teológica

No início do século XX, o pentecostalismo passou a enfatizar o batismo no Espírito Santo como revestimento de poder; as línguas estranhas como evidência da manifestação do Espírito Santo no crente; a manifestação dos dons espirituais. Numa das reuniões de Seymour, em Los Angeles, estava presente o pastor de uma igreja batista em Chicago, W. H. Durham, que também falou em línguas.
No Brasil, o pentecostalismo está diretamente ligado ao movimento de Los Angeles, pois foram dois missionários deste movimento que trouxeram para o país o pentecostalismo. Daniel Berg e Gunnar Vingren, discípulos de Durham, em novembro de 1910. Eles chegaram ao Brasil convictos de que Deus os enviara a pregar a mensagem cristã a esta grande nação. Em junho de 1911, organizou-se em Belém do Pará, à Rua Siqueira Mendes, nº 67, a primeira Igreja de Fé Pentecostal no Brasil, primeiramente sob o título de “Missão de Fé Apostólica”, alterado em janeiro de 1918 para “Assembléia de Deus”, por Convenção realizada em Chicago, EUA.
Anos mais tarde, em 1932, Deus batizava o Pr. João Augusto da Silveira no Espírito Santo; nascia assim a Igreja Adventista da Promessa, a primeira igreja pentecostal brasileira. Portanto, historicamente somos Pentecostais Clássicos e teologicamente também somos Pentecostais Clássicos; cremos no batismo no Espírito Santo, cremos nas línguas estranhas como evidência desse batismo e cremos também nas manifestações dos dons espirituais.

Os Neopentecostais

Segundo Ricardo Mariano, em Neopentecostais – Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil, (citado na revista Compromisso, 1º trimestre de 2003, págs. 79-80), o movimento pentecostal brasileiro se divide em três ondas: A primeira onda é o chamado “Pentecostalismo Clássico”, da Rua Azuza no início do século XX. A segunda onda é conhecida por “deutero-pentecostalismo” ou “pentecostal neoclássico”, movimento de cura divina do início da década de 50.
Por fim, a terceira onda: “neopentecostalismo”, tendo suas origens na segunda metade da década de 70. Os precursores do movimento neopentecostal (Edir Macedo, R. R. Soares e Miguel Ângelo) saíram da Igreja de Nova Vida, do missionário canadense, naturalizado norte-americano, Robert McAlister, e fundaram as primeiras igrejas neopentecostais em solo brasileiro: Igreja Universal do Reino de Deus (1977), Internacional da Graça de Deus (1980) e Cristo Vive (1986). Ao lado destas três primeiras igrejas, encontramos ainda outras comunidades que se originaram de outras denominações tradicionais.

Expoentes e raízes teológicas

Dois nomes bastante influentes na teologia neopentecostal, com certeza são: Essek William Kenyon e Kenneth Hagin.

1. KENYON. Nasceu em 24 de abril de 1867, em Saratoga, Nova York, EUA, falecendo aos 19 de março de 1948, ele tinha pouco conhecimento teológico formal. “Kenyon nutria uma simpatia por Mary Baker Eddy” (Gondim, p. 44), fundadora do movimento herético “Ciência Cristã”, que afirma que a matéria, e a doença não existem. Tudo depende da mente.

2. KENNETH HAGIN. Discípulo de Kenyon. Nasceu em 20 de agosto de 1917, em McKinney, Estado do Texas, EUA. Sofreu várias enfermidades e pobreza; diz que se converteu após ter ido três vezes ao inferno (Romeiro, p. 10). Aos 16 anos diz ter recebido uma revelação de Mc. 11: 23,24, entendendo que tudo se pode obter de Deus, desde que confesse em voz alta, nunca duvidando da obtenção da resposta, mesmo que as evidências indiquem o contrário. Isso é a essência da “Confissão Positiva”.

Estes dois são os pulverizadores da teologia neopentecostal não apenas no Brasil, mas em toda América, misturaram teologia com gnosticismo e criaram uma estrutura teológica que encontrou solo fértil num país como o nosso; que é de terceiro mundo e sofre com questões básicas como saúde, falta de moradia, segurança, entre outras.

Teologia dos Neopentecostais

1. Teologia da prosperidade: A teologia da prosperidade, defendida pelos neopentecostais, afirma que um cristão verdadeiro e fiel a Deus, tem o direito de obter a felicidade integral, pode exigi-la, ainda durante a vida presente sobre a terra.
2. Confissão positiva: Confissão positiva é um título alternativo para a teologia da forma da fé ou doutrina da prosperidade promulgada por vários televangelistas “a expressão “confissão positiva” se refere literalmente a trazer à existência o que declaramos com nossa boca, uma vez que a fé é uma confissão”.
3. Maldições hereditárias: Chamada também de Quebra de Maldições, Maldições Hereditárias, Maldição de Família e Pecado de Geração. Pode ser definida como: A autorização dada ao diabo por alguém que exerce autoridade sobre outrem, para causar dano à vida do amaldiçoado.
A Bíblia ensina que a responsabilidade do pecado é pessoal: Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Que tendes vós, vós que, acerca da terra de Israel, proferis este provérbio dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram? Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR DEUS, jamais direis este provérbio em Israel (...). Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá (Ez. 18: 1-4).
4. Possessão de crentes: Os pregadores neopentecostais tem uma cosmovisão que dá lugar à crença na possessão de crentes por demônios. Essa crença fica clara no livro Orixás, Caboclos & Guias: Deuses ou Demônios (pgs. 101-104) no capítulo “Crentes endemoninhados?” – Macedo afirma claramente que o capítulo é fruto de sua observação: “Este capítulo não existiria se eu não tivesse visto constantemente pessoas de várias denominações evangélicas caírem endemoninhadas, como se fossem macumbeiras, ao receberem a oração da fé”. O Bispo Macedo não oferece nenhum texto bíblico como argumento para comprovar tal doutrina. Apenas fez “uma observação”.

Não cremos assim:
1º. O crente é santuário do Espírito Santo: Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo (I Co. 6: 19-20).
2º. O Espírito Santo tem zelo por nós: Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes? (Tg. 4:5)
3º. O crente é propriedade peculiar de Deus: Em que também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança até ao resgate da propriedade, em louvor da sua glória (Ef. 1: 13-14).
4º. Jesus é o mais que valente que tomou posse da propriedade (Lc. 11: 21-22), portanto em Cristo estamos seguros.

O culto neopentecostal

A Bíblia nos apresenta um modelo de culto que é a adoração a Deus na pessoa de Cristo. Portanto, Cristo é o centro do culto, tudo deve girar em torno dEle e para Ele (Hebreus 10: 19-25).
Não é o que vemos num culto neopentecostal, onde o homem passa a ser o centro (antropocentrismo) do culto, tudo é para o homem (letras dos hinos, mensagens proferidas, testemunhos e outros) e feito na intenção de satisfazer esse homem. Isto não é bíblico, por atraente e satisfatório que pareça, não é para o homem que prestamos culto e sim para Deus.
É quando prestamos culto a Deus que somos confrontados com nossa realidade, e descobrimos que somos carentes da graça de Deus. Neste momento Ele nos edifica e restaura; num culto antropocêntrico não existe espaço para Deus.

Outras práticas do culto neopentecostal

Hoje observamos práticas que eram comuns na Idade Média onde o catolicismo se utilizava de objetos ditos sagrados (posse de relíquias; unção e santificação de objetos; água benta; pedaços da cruz de Cristo; bulas papais etc.) para efetuar cura e absolvição de pecados. Essas mesmas práticas, os cristãos brasileiros, até a década de 70, só as viam nos cultos sincretistas afro-brasileiros (banhos sagrados, uso de rosas vermelhas, sal grosso, entre outras).
É de assustar quando vemos igrejas neopentecostais usarem práticas e objetos ( copo d’água, rosa ungida, sal-grosso, pulseiras abençoadas, peças de roupas de entes queridos, óleos de Jerusalém, águas do rio Jordão, trombetas de Gideão, cajado de Moisés, cultos de descarrego etc.) como na Idade Média e no sincretismo brasileiro, em seus cultos. Esses objetos acabam servindo de mediação entre o homem e Deus. O perigo é que a Bíblia nos apresenta Cristo como sendo o único mediador entre Deus e o homem (I Tm. 2:5; Hb. 9:15; Hb. 12:24).

A evangelização dos neopentecostais

Jesus nos ordenou a pregar o Evangelho a todas as criaturas (Mt. 28: 19-20), a mensagem deve levar o ouvinte a crer no Senhor Jesus Cristo e a se arrepender e confessar os seus pecados, para obter a salvação (Rm. 10:10).
O que vemos na evangelização neopentecostal é uma mensagem onde a pessoa é levada a satisfação do bem estar pessoal e não a uma mensagem de confissão para o perdão; isto é proselitismo e não pregação do Evangelho. Proselitismo é quando uma pessoa faz adesão a uma religião não por fé, mas por costume. Isto era o que Israel fazia com as pessoas que não eram cidadãos israelitas, mas que queriam professar a mesma crença; esta pessoa passava pelo ritual da circuncisão e assim se tornava israelita.

Conclusão: Nosso propósito com esta matéria é firmar o temos por fé no meio promessista. Tais práticas neopentecostais nunca fizeram parte de nossa crença. Devemos firmar o compromisso de que a Bíblia é nossa única regra de fé e prática, portanto, nossa conduta eclesiástica deve se pautar na revelação divina, não devemos copiar ou aderir à práticas que não são aceitas pelo nosso presbitério. Sejamos fiéis primeiro àquele que nos chamou e que nos colocou como servos seus, para cuidar do seu rebanho. Não temos o direito de transformar a Igreja de Cristo em uma comunidade com objetivo e propósitos diferentes dos ensinados pelo Senhor da Igreja.


Comentários
Pr. Adaílson Santos Silva: Vice-Superintendente Regional, membro da Comissão de Doutrina da IAP Geral, Pastor da IAP de Itaim Paulista, Professor da FATAP – Faculdade de Teologia Adventista da Promessa.

Pr. Carlos Edson de Almeida: Secretário Regional, Pastor da IAP de Itaquaquecetuba, Bacharel em Teologia pela FATAP – Faculdade de Teologia Adventista da Promessa.


Extraído da Folha Promessista da Região Paulistana Leste – Ano VI, nº 6, págs. 8-9.

Lição 1 - Jesus aboliu a abstinência de alimentos impuros?

MARCOS 7:15
Este texto prova que a abstinência de
alimentos foi abolida por Jesus?

Autor:
Pastor Valdeci Nunes de Oliveira
Lição Bíblica 273, sábado, 01 de outubro de 2005

Leitura: Mc 7:1-5,18-23

OBJETIVO: Levar o estudante a compreender a interpretação correta de Mc 7:1-5,18-23, e a aplicar essa verdade em sua vida.

TEXTO BÁSICO: Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas, o que sai do homem é o que o contamina. (Mc 7:15)

INTRODUÇÃO: O texto bíblico que serve de tema para a presente lição – assim como tantos outros que serão analisados posteriormente – tem sido usado por muitas pessoas como parte de seus argumentos contra a separação dos alimentos, como se essa fosse a sua verdadeira interpretação. Mas este texto prova que a abstinência de alimentos foi abolida por Jesus? Responder a esta pergunta é o que pretendemos fazer, através deste estudo. Esperamos contar com a atenção e o interesse do leitor.

A exposição que faremos do texto de Mc 7:1-5,18-23 tem como propósito mostrar o significado que o texto parece ter, para algumas pessoas, e o significado que ele, de fato, tem. A última palavra sobre esta questão caberá à Bíblia Sagrada, a palavra de Deus.

I – A INTERPRETAÇÃO ERRADA DO TEXTO

Com base numa interpretação distorcida desse texto, muitas pessoas, inclusive crentes, entendem que podem comer e beber de tudo, e de maneira indiscriminada, usando como justificativa as palavras de Jesus: Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas, o que sai do homem é o que o contamina, como se, com estas palavras, Jesus as tivesse autorizado a agir assim. Considerado ao pé da letra, esse texto parece permitir o uso irrestrito dos alimentos, principalmente se levarmos em conta o que consta do versículo 19, onde lemos: E assim, considerou ele puros todos os alimentos. Esta é, por exemplo, a opinião de Keener: Entende-se que se as palavras de Jesus forem tomadas literalmente, elas declaram que a drástica distinção puro/imundo, enfatizada pela lei, possui apenas valor simbólico. Porque tal distinção se constituía em uma das principais barreiras entre os judeus e os gentios (Ver Rm 14), esta declaração de Jesus abre caminho para uma reconciliação racial e cultural à uma mesma comunhão”[1]

II - A INTERPRETAÇÃO CORRETA DO TEXTO

Como estudantes das Escrituras, reconhecemos que alguns textos, por si sós, se explicam; outros, porém, só podem ser explicados com o auxílio do contexto. Qualquer estudioso das Escrituras Sagradas tem o dever de saber dessas coisas. O texto em epígrafe, por exemplo, não pode ser interpretado sem o concurso do contexto, conforme definido na apresentação desta série de estudos. O contexto quase sempre envolve as partes anterior e posterior ao texto. Com isto, estamos procurando deixar claro que, se cada parte de um texto está relacionada às demais, nenhuma delas poderá ser explicada separadamente. O exame do contexto leva-nos à conclusão de que o assunto em torno do qual a discussão se desenvolve é comer sem lavar as mãos. Neste caso, em particular, não nos é necessário fazer nenhuma análise especial para percebermos isso. O lavar as mãos “muitas vezes”, antes das refeições, era um costume que os judeus religiosos haviam recebido dos seus antepassados. Entretanto, esse procedimento, embora saudável, não passava de uma simples tradição. Na situação que estamos analisando, os discípulos foram censurados, não por violarem qualquer dos mandamentos de Deus, mas por violarem esta tradição dos antigos, que impunha, aos que se aproximavam da mesa, a obrigação de lavarem as mãos muitas vezes, antes de fazerem suas refeições, como se as impurezas das mãos pudessem contaminá-los espiritualmente. De sua parte, o apóstolo Paulo deu testemunho desse zelo de seus compatriotas, embora reconhecesse que, em muitos casos, a medida do zelo era maior que a do entendimento (Rm 10:1-2).

Movidos pelo zelo e pela lealdade às suas tradições, escribas e fariseus faltavam com o entendimento em duas coisas: 1a) Colocavam suas tradições em pé de igualdade com a palavra de Deus; 2a) consideravam que a contaminação do corpo afetava o estado espiritual do homem. Pensando assim, julgaram a atitude dos discípulos não somente anti-higiênica, mas, também, irreverente e pecaminosa. Jesus, porém, mostrou que as tradições humanas não podem ser equiparadas ao mandamento de Deus, pois representam a planta que o Pai celestial não plantou (Mt 15:13); deixou claro, também, que qualquer impureza que, eventualmente, possa infiltrar-se no corpo, como resultado do comer sem lavar as mãos, não pode contaminar espiritualmente o homem.

É evidente que os bons hábitos de higiene produzem bons efeitos para o corpo, pois podem preveni-lo de doenças e preservar-lhe a saúde. Porém, a não-observação de um hábito, como o de lavar as mãos várias vezes, antes das refeições, pode ser nocivo à saúde do corpo, mas em nada afeta a condição espiritual do infrator. Não são as eventuais impurezas introduzidas no organismo por mãos não-lavadas que contaminam uma pessoa, mas o que de mau existe em seu coração, exteriorizado e transformado em palavras e atos de impureza moral, como os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias (Mc 7:20-23).

A parte final do versículo 19 do capítulo 7 de Marcos, é talvez, a arma mais usada pelos que defendem o uso indiscriminado dos alimentos, por afirmar: E assim considerou ele (Jesus) puros todos os alimentos. Cientes de que estas palavras merecem uma maior atenção, sugerimos ao leitor que analise conosco os esforços já feitos pelos estudiosos na busca de uma explicação coerente para o texto. O conhecido intérprete das Escrituras R. N. Champlin, ao comentá-lo, afirma: “... alguns eruditos supõem que a ‘declaração’ não é realmente de Jesus, mas foi posta em sua boca pela igreja”. Em seguida, levanta a questão: “Por ventura Jesus teria ido ao ponto de ab-rogar virtualmente às leis levíticas no tocante a alimentos puros e impuros, além de coisas similares?” Ele admite que, por ter sentido parabólico, esta “consideração” sugere um sentido que, no seu entender, “permanece incerto”.[2]

Champlin não está entre os que reconhecem a vigência da lei que separa os alimentos; porém, usa de sinceridade ao fazer menção a “alguns eruditos que supõem que ‘a declaração’ [assim considerou ele puros todos os alimentos] não é realmente de Jesus”, pois corrobora com ele o fato de que algumas traduções simplesmente omitem esta parte final do versículo 19. Entre estas, podemos citar a tradução, em português, feita pelo Padre Antônio Pereira de Figueiredo. Ali, a tradução é feita assim: Porque isso não lhe entra no coração, mas vai ter ao ventre, e depois lança-se num lugar escuso, levando consigo todas as fezes do alimento (Esta tradução não contém a declaração de que Jesus “considerou puros todos os alimentos”). [3] O teor do versículo 19, na tradução citada, sugere que, do intestino, o que foi processado, é, depois, lançado fora, pelo organismo, com as eventuais impurezas introduzidas nele, em conseqüência do “comer sem lavar as mãos”. No dizer de Jesus, os alimentos declarados puros, pela lei, ainda que usados sem as repetidas lavagens de mãos, continuavam sendo puros e nenhum mal poderiam causar àqueles que deles comessem. Não é isto que acontece, quando, por desconhecimento, o crente ingere algo que possa representar um risco para a sua saúde? Sim! É o próprio Cristo quem afirma essa verdade: E se beberem alguma coisa mortífera não lhes fará dano algum (Mc 16:18).

O renomado teólogo batista, Russel Shedd, editor da Bíblia Vida Nova, tem opinião semelhante à de Champlin, no que se refere ao significado de Mc 7:19, pois, ao comentá-lo, em nota de rodapé, afirma: “Parece ser um comentário da parte de Marcos, que revela o que Pedro aprendeu (At 10:15) sobre a desobrigação dos cristãos de guardarem as leis sobre comidas puras e impuras (cf. Lv 11; Dt 14)”.

Entretanto, como defensores da veracidade e da autenticidade da Escritura, somos contrários à utilização de qualquer recurso exegético ou hermenêutico que tenha como finalidade negar a autoridade dela, sob a alegação de que esta ou aquela parte não é autêntica, como Shedd deixa implícito. Tal procedimento abre um precedente perigoso, pois pode levar o estudante a questionar a autenticidade de outras partes da mesma Escritura.

Na busca de explicação para o texto em apreço, há outros argumentos dos quais podemos fazer uso, sem que nos seja necessário contrariar o ensinamento bíblico. Antes, porém, de recorrermos a esses argumentos, chamamos o estudante à atenção para as seguintes considerações:

1a) O enunciado constante do final do versículo que estamos apreciando é tido como de difícil explicação, porque, aparentemente, desobriga os cristãos da obediência à lei que faz distinção entre os alimentos. Há, porém, como neste caso, vários outros ditos de Jesus (assim chamados, por não apresentarem sentido claro à primeira vista), que têm desafiado a criatividade e a capacidade dos estudiosos, durante muito tempo, e Mc 7:19 é um deles.

2a) Não há, em nenhuma outra parte das Escrituras, tanto no Antigo quanto do Novo Testamento, um outro texto em que possamos ler que o crente está desobrigado da obediência à lei de separação dos alimentos. E isto nos induz à convicção de que o texto em apreço (Mc 7:19) tem um significado diferente daquele que, à primeira vista, parece ter, pois prevalece o conceito segundo o qual nenhuma doutrina bíblica poderá ser estabelecida ou anulada com base em um único versículo.

3a) A lei que trata do limpo e do imundo, tal como encontramos em Lv 11, foi, depois, repetida em Dt 14. Há, ainda, muitas alusões que lhe são feitas, em, praticamente, todo o restante das Escrituras (cf. Nm 5:2, 9:10; Dt 12:15,22; II Cr 23:19; Is 66:17; Ez 44:23; Ag 2:14; Ml 1:7; Mt 12:43; Mc 1:23; Lc 4:33, 11:24; At 10:14,15,28; II Co 6:17, 7:1; Ap 18:2, 22:11). Ora, Jesus conhecia muito bem a lei que fazia distinção entre os alimentos. Por que, então, fez tal declaração?

4a) Alguns dos ensinamentos ministrados por Jesus tinham caráter genérico, isto é, eram destinados a todas as pessoas, em situações diversas; outros, eram específicos, ou seja, eram destinados a algumas pessoas apenas, em situações especiais (Mc 4:4:11,34; Lc 8:10).

Shedd chega a aventar a idéia de que a conclusão de Marcos – E assim considerou ele puros todos os alimentos – é resultado da influência que Pedro exercera sobre ele, uma vez que este, depois da visão descrita em At 10:11-13, deixara de ser abstinente. E muitos outros especialistas em Novo Testamento concordam que Pedro, de fato, exercera influência sobre Marcos. Porém, o pressuposto de que Pedro deixara de ser abstinente, a partir da visão descrita em At 10, está em total desacordo com as declarações do próprio apóstolo, conforme At 10:14 e 28, em que ele afirma nunca ter comido coisa alguma comum e imunda, acrescentando, ainda, que, através daquela visão, Deus lhe havia mostrado que havia purificado homens e não animais, como verificaremos na próxima lição.

Se, porém, a explicação de Mc 7:19 dada por Shedd é incorreta, qual a correta? A explicação pode ser encontrada com a análise de duas palavras importantes e presentes naquela sentença: “puros” e “comidas”. Vamos começar pela palavra “puros”. Quando recorrem ao texto grego, os estudiosos contrários à validade da distinção feita por Deus, em Lv 11 e Dt 14, afirmam que a maior prova de que, para o Senhor, todas as carnes são puras é o verbo grego katharizo – que significa: limpar, lavar, purificar –, o mesmo usado pelo escritor do evangelho para retratar a purificação do leproso efetuada por Jesus (Mc 1:40-42). Outros escritores do Novo Testamento utilizam também katharizo para descrever o poder do sangue de Jesus para purificar pecados (At 10:15; Tt 2:14; Hb 9:14; I Jo 1:7,9).

Todavia, ignoram outra palavra igualmente importante: “alimentos” (RA) ou “comidas” (RC), que foi traduzida do grego broma (Mt 14:15; Lc 3:11; Rm 14:15; I Co 6:13; I Tm 4:3; Hb 9:10). Outra palavra sinônima usada para fazer referência a alimentos/comidas, no grego, é brosis (Jo 4:32, 6:27; Rm 14:17; I Co 8:4; II Co 9:10; Hb 12:16). Jesus chegou a utilizar as duas, no pequeno diálogo que teve com os seus discípulos sobre comida (Jo 4:32) – brosis (Jo 4:34) e broma. A palavra, portanto, traduzida por alimentos/comidas, que aparece no texto grego de Mc 7:19, é broma e não kreas, termo que significa “carnes”, usada em Rm 14:21 e I Co 8:13.

Um judeu jamais usaria esses dois termos gregos – brosis e broma – para se referir a carnes que não fossem adequadas para o consumo humano. A Bíblia que Jesus lia, o Antigo Testamento, não tinha como alimento qualquer das carnes proibidas em Lv 11 e Dt 14. Portanto, com certeza, Jesus jamais defenderia o uso de alimentos que não fossem permitidos pela referida lei. Se, apesar disso, o leitor acha que há, em Mc 7:19, alguma incoerência da parte de Jesus, sugerimos que acompanhe o nosso raciocínio nos dois exemplos que se seguem. O primeiro deles diz respeito ao episódio da multiplicação dos pães de cevada e dos dois peixinhos, descrito em Jo 6:5-12. Ao final daquela refeição, o Senhor disse: Recolhei os pedaços que sobejaram para que nada se perca. Aqui, há um princípio espiritual prático: Jesus é contrário ao desperdício de alimento.

Paradoxalmente, porém, nós o vemos permitir a uma legião de demônios que entre numa manada de dois mil porcos, o que resultou na morte de todos eles (Mc 5:1-13). Se considerarmos que eram 2.000 porcos e que cada porco pesava, em média, 30 kg, então temos: 2.000 x 30 =60.000 kg de carne. Como poderia o mesmo Jesus que, em outra situação, dera a seus discípulos uma lição de economia não se importar com tamanho desperdício? Temos dúvidas sobre se Jesus usaria o mesmo procedimento se, ao invés de uma manada de porcos, fosse um rebanho de ovelhas; porque as ovelhas poderiam ser usadas como alimento; os porcos, não. Para os observadores da tradição, o comer sem lavar as mãos tinha o poder de contaminar espiritualmente até mesmo as carnes que Deus havia declarado puras, em Lv 11 e Dt 14. A tradição era, para eles, tão forte que tinha o poder de tornar impuro o que Deus havia declarado puro. Jesus acertou, quando disse, no contexto, que, por causa das tradições, esses “teólogos judaicos” estavam invalidando a palavra de Deus. “Mandamentos humanos” eram, espiritualmente, mais poderosos e influentes que “mandamentos divinos”. Eles estavam indo além do que as Escrituras diziam, asseverando novas idéias sobre pureza e impureza dos alimentos – questão que já estava claramente determinada pelo Senhor, em Lv 11 e Dt 14. Eles não estavam ensinando segundo as Escrituras.

O rigor com que encaravam essas tradições levava muitas pessoas humildes a se sentirem espiritualmente imundas ou impuras, quando comiam sem atenderem as regras de purificação preconizadas por essas tradições. É possível imaginarmos o alívio que essas pessoas sentiram, ao ouvirem de Jesus que os alimentos de uso permitido pela lei continuam sendo limpos, mesmo quando usados sem o ritual do “lavar as mãos muitas vezes”.

A lição que aprendemos é a seguinte: Não devemos impor aos fiéis proibição alguma que já não esteja prevista nas Escrituras; do mesmo modo, não temos o direito de liberar o que elas proíbem.

CONCLUSÃO

Pelo que ficou demonstrado nesta lição, o texto de Mc 7:15 não prova que Jesus aboliu a abstinência de alimentos. Aqueles que o citam, para justificar o uso indiscriminado dos alimentos, fazem-no fundamentados numa falsa interpretação dele. O texto, que serviu de tema para este estudo não se propõe a discutir a questão alimentar, mas se propõe a esclarecer se comer sem lavar as mãos pode ou não contaminar espiritualmente o homem. E Jesus deixou claro que o homem é contaminado pelos maus desígnios que saem do seu coração, como a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Estas são as coisas que, entrando no homem, podem contaminá-lo, não o comer com as mãos por lavar, desde que o alimento usado, com mão lavadas ou não, sejam declarados puros pela lei.

QUESTIONÁRIO

1) No comentário anterior, dissemos que há textos bíblicos que só podem ser explicados com o auxílio do contexto. Leia o referido comentário e responda: O que é contexto?

2) Leia Mc 7:1-2 e responda: A que conclusão chegaram escribas e fariseus, ao observarem o comportamento dos discípulos, enquanto estes comiam?

3) Leia Mc 7:3-4 e responda: No seu zelo com a saúde do corpo, até que ponto chegaram escribas, fariseus e todos os judeus, para não se contaminarem?

4) Leia Mc 7:6-8 e responda: Lembrando as palavras de um profeta do Antigo Testamento, que disse Jesus aos reprovadores?

5) Leia Mc 7:14-15 e responda: Qual foi a resposta final de Jesus, na discussão sobre o “comer sem lavar as mãos?”

6) Leia Mc 7:18-19 e responda: Que explicação podemos dar às palavras de Jesus e por quê?

7) Leia os Mc 7:20-23 e responda: De acordo com o ensinamento de Jesus, que coisas podem contaminar o homem?

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[1] KEENER, Craig S. Comentário Bíblico Atos, Novo Testamento. Belo Horizonte: Editora Atos Ltda , 2004, p. 160.

[2] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Milenium Distribuidora Cultural Ltda., 1983, Vol. I, 4a Impressão, p. 719.

[3] Bíblia Sagrada. Traduzida em português segundo a Vulgata Latina, pelo Padre Antonio Pereira de Figueiredo. Londres, Lisboa e Rio de Janeiro: Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, edição de 1940.

Lição 2 - Jesus purificou todos os alimentos?

ATOS 10:13
Esse texto afirma que Deus purificou todos os alimentos?

Autor:
Pastor Valdeci Nunes de Oliveira
Lição Bíblica 273, sábado, 08 de outubro de 2005

OBJETIVO: Mostrar ao estudante o real sentido teológico de Atos 10:13, para que ele tenha a sua fé fortalecida com essa verdade.

TEXTO BÁSICO: E ouviu-se uma voz que se dirigia a ele: Levanta-te, Pedro; mata e come (At 10:13).

INTRODUÇÃO: Estamos diante de um texto bíblico (At 10:13) que, a exemplo do que foi estudado na lição anterior (Mc 7:15), nada tem a ver com a questão da alimentação. Porém, os defensores da abolição da dieta cristã usam ambos os textos, para ensinarem que a distinção feita por Deus, entre os alimentos puros e impuros, no décimo primeiro capítulo do livro de Levítico, já foi abolida, e que, em decorrência disto, os cristãos podem comer de tudo, indiscriminadamente. Será esta a verdadeira interpretação do texto? É o que veremos, durante o estudo da presente lição.

I - A INTERPRETAÇÃO ERRADA DO TEXTO

Considerando que Pedro estava jejuando e, portanto, com fome, no momento em que ouviu a voz que lhe dizia: Levanta-te Pedro, mata e come, e considerando, ainda, que lhe foi feita a observação: ... não chames tu comum ao que Deus purificou, muitas pessoas entendem que, a partir dali, a abstinência daqueles alimentos considerados impuros estava definitivamente cancelada. E, pensando assim, comem e ensinam outras pessoas a comerem de tudo. Essas pessoas entendem que os animais vistos naquela visão eram animais literais e que, de acordo com o entendimento que têm dessa visão, foram purificados por Deus mediante o sacrifício de Jesus.

Até mesmo pessoas relativamente esclarecidas, sabendo que esta não é a verdadeira interpretação do texto, torcem-na por conveniência, como podemos observar a seguir:

O efeito da visão, portanto, era anunciar a Pedro que a distinção que se fazia no Antigo Testamento entre alimentos que eram “puros” e, portanto, apropriados para o consumo humano, e os que eram “impuros”, já fora cancelado, de tal modo que, doravante, os cristãos judaicos poderiam comer qualquer tipo de comida sem medo de profanação. Quando é, pois, que Deus cancelou a distinção? Parece que foi no momento de ser feita esta declaração [1] Seguindo este mesmo entendimento, muitas pessoas, em nossos dias, comem e bebem, sem qualquer escrúpulo, tudo o que lhes vem à boca, alegando, para isso, que, depois da morte de Cristo, todas as coisas foram purificadas.

I - A INTERPRETAÇÃO CORRETA DO TEXTO

Se At 10:13 nada tem a ver com a questão alimentar, o que Deus pretendia mostrar ao apóstolo Pedro e, por intermédio deste, a todos os demais judeus, através daquela visão? Para interpretarmos corretamente At 10:13, precisamos examinar o seu contexto; não apenas no contexto mais próximo, isto é, os versículos imediatamente anteriores (At 10:1:12) e posteriores (At 10:14, 11:18) ao versículo 13, mas, também, o contexto temático, ou seja, outras passagens relacionadas ao tema abordado. Por onde devemos começar? Vamos iniciar pela antiga promessa feita por Deus a Abraão: ... e em ti serão benditas todas as famílias da terra (Gn 12:3). Esta promessa deveria cumprir-se de maneira plena, no tempo determinado por Deus, e a vinda de seu Filho Jesus Cristo a este mundo marcou o início desse tempo. Até então, os descendentes de Abraão (o povo judeu) eram os privilegiados, porque deles eram a adoção, a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas (Rm 9:4). Os outros povos eram considerados gentios na carne, chamados incircuncisos, sem Cristo, separados da comunidade de Israel, estranhos aos concertos da promessa, sem esperança e sem Deus no mundo (Ef 2:11-12).

Mas o plano de Deus revelado a Abraão incluía todas as famílias da terra, e não apenas os judeus. O difícil, para muitos judeus, porém, era partilhar com os gentios a privilegiada condição que usufruíam, como integrantes do povo escolhido, se os gentios não se submetessem a todas as exigências representadas, tanto na lei como nas tradições de seu povo. Mas Deus estava determinado a quebrar a barreira que os separava e a fazer de ambos um só povo. Ele queria fazer isso através dos próprios judeus. O tempo de agir havia chegado (Mc 1:14-15; Gl 4:4-5) e era preciso encontrar a maneira apropriada de fazer isso. Deus encontrou.

Enquanto Pedro orava,

... sobreveio-lhe um arrebatamento de sentidos, e viu o céu aberto e que descia um vaso, como se fosse um grande lençol atado pelas quatro pontas, vindo para a terra, no qual havia de todos os animais quadrúpedes, répteis da terra e aves do céu. (At 10:11-12)

Três vezes, uma voz ordenou-lhe: Levanta-te, Pedro! Mata e come (At 10:13); três vezes, Pedro protestou contra a ordem divina: De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum e imunda (At 10:14). Cada vez, a lição foi repetida: Não faças tu comum ao que Deus purificou (At 10:15).

Essa visão dos animais foi a opção mais apropriada para – uma vez entendida no seu verdadeiro sentido – quebrar a barreira representada pelos preconceitos que dividiam os judeus dos não-judeus e preparou o apóstolo para pregar o evangelho a Cornélio, um gentio, por duas razões principais: 1a) foi religiosamente convincente (foi mostrada a um homem piedoso, num momento em que este homem piedoso estava em plena consagração), e 2a) envolveu representantes respeitáveis dos dois povos. O que foi mostrado a Pedro naquela visão tinha sentido figurado. Os animais vistos não significavam animais de verdade: representavam pessoas. E que pessoas eram essas? Os gentios! Observemos, a propósito disto, o comentário feito por Champlin: As visões místicas ordinariamente são dadas na forma de ‘quadros’ ou ‘símbolos’... No caso que ora comentamos, por exemplo, não devemos imaginar que Pedro realmente viu feras, répteis e aves estranhas, baixadas do firmamento numa espécie de lençol literal, de pano. Pelo contrário, foram imagens mentais, recebidas sob formas aparentemente visuais, que tinham por intuito transmitir-lhe uma espécie de mensagem espiritual. [2]

Conhecedor das barreiras política, social e religiosa que separavam os judeus dos não-judeus (Jo 4:9), mas desejoso de mostrar a estes que havia chegado o momento de agregar também aqueles, pela fé em Jesus Cristo, conforme a promessa feita a Abraão (Gn 18:18; Gl 3:8) e cumprir seu grande propósito de estabelecer um só rebanho para um só pastor (Jo 10:16), Deus utilizou aquela visão, informando ao gentio Cornélio e ao judeu Pedro sobre o que pretendia fazer a esses dois povos, a partir dali (cf. At 10:1-6,19-20). De acordo com Champlin, ... o ponto central da visão, que Deus pode declarar qualquer coisa pura, aplica-se especialmente aos gentios que Pedro está para receber. (10:28, 15:9) [3]

Aqueles animais da visão representavam os povos não-judeus, antes, considerados distanciados de Deus, mas que, agora, pelo evangelho, passavam a ser aceitos. Portanto, Pedro foi advertido, na visão, a não considerar comum ou imundo o que Deus mesmo havia purificado (At 10:15,28). E Pedro aprendeu a lição, pois, no começo de sua pregação, declarou em Cesaréia: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo (At 10:28,34-35). Veja, que neste trecho, o próprio Pedro explica o significado correto do texto, afastando qualquer dúvida sobre o assunto.

Posteriormente, ao ser censurado pelos defensores da circuncisão, por ter se hospedado e se alimentado na casa de um gentio (At 11:1-3), ele narrou com riqueza de detalhes, tudo quanto acontecera, inclusive a maneira como Deus confirmara a sua presença naquela casa, fazendo descer o seu Santo Espírito sobre todos os gentios que ouviam a Palavra (At 11:4-18). De fato, A eleição divina não implica parcialidade; a graça de Deus alcança livremente tanto a gentios como a judeus. Para nós hoje, isto é um lugar comum, mas para Pedro era uma idéia revolucionária [4] Yancey[5] tece comentários sobre a posição dos judeus com relação aos impuros e sobre a visão mostrada a Pedro e descrita no capítulo 10 do livro de Atos. Diz o referido autor que o modo como os não-judeus eram tratados por alguns judeus estava em total desacordo com os padrões estabelecidos pela graça de Deus, cujo propósito é aproximar e não afastar as pessoas de Deus. Esse modo de tratar com discriminação não era adotado somente com os não-judeus; muitos dos próprios judeus também eram tratados assim. Para exemplificar isso, Yancey faz menção aos leprosos, à mulher durante os dias de sua menstruação, o homem que tocava em um cadáver, etc. Depois de argumentar que Jesus agiu de modo a mudar esse conceito, o autor dá como exemplos: a) Jesus sendo tocado por uma mulher com hemorragia (Mc 5:25-29); b) Jesus tocando na filha de Jairo, estando esta já morta (Mc 5:35-42); c) Jesus tocando no leproso (Mc 1:40-42). Depois de reproduzir as palavras de Pedro, em At 10:28: mas Deus me mostrou que não devo chamar nenhum homem de impuro, Yancey conclui o seu raciocínio, dizendo: Somos chamados para estender essa misericórdia, para ser transmissores da graça, e não para evitar o contágio. Assim como Jesus, podemos ajudar o ‘impuro’ a se tornar limpo”. “Desta forma não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há macho nem fêmea, pois todos vós sois um em Cristo Jesus”.[6]

Portanto, a lei que faz distinção dos alimentos permanece em vigor (Lv 11), mas a barreira social que fazia separação entre as pessoas, classificando algumas como puras e outras como impuras, Jesus aboliu (Lv 21:16-24). Se já não tinha razão de existir no passado, menos razão tem agora.

CONCLUSÃO:

Pelo que pudemos demonstrar, o texto que serviu de tema para este estudo não prova que Jesus purificou todos os animais. A visão descrita nele tem sentido figurado e revela o propósito de Deus em congregar, através da pregação do evangelho, todos os povos da terra, derribando as barreiras que as separava. Os animais mostrados na visão representavam os povos não-judeus, antes, considerados impuros, mas que, a partir dali, passavam a ser aceitos, pela fé em Jesus Cristo, sem qualquer discriminação.

Se Jesus houvesse liberado o uso de alimentos considerados impuros, até aquela época, por que o apóstolo Pedro continuava sendo abstinente, sendo sua resposta ao Senhor foi: De modo nenhum, Senhor, porque jamais comi coisa alguma comum e imunda?

QUESTIONÁRIO

1) Leia o texto reproduzido anteriormente e faça um resumo dele, envolvendo a ordem que Deus deu a Cornélio para chamar Pedro e como o mesmo Deus preparou o apóstolo para atender a esse chamado.

2) Leia Ef 2:11-12 e descreva as relações política, social e religiosa prevalecentes nos dias de Cristo, entre judeus e não-judeus.

3) Leia Gn 12:3 e responda: Que promessa feita a Abraão Deus havia reservado para cumprir através de seu Filho Jesus Cristo?

4) Leia Jo 4:22; Rm 1:16 e explique: Por que Deus queria fazer isto através de um judeu?

5) Leia At 10:11-13 e responda: Que meio utilizou Deus para mostrar aos judeus, através de Pedro, que o tempo de congregar os gentios havia chegado?

6) Leia At 9:6,10,11,17; At 5,7,17-20 e responda: Que medidas preparatórias adotou o Senhor, no sentido de quebrar o preconceito judaico, com relação aos não-judeus, e facilitar a entrada do evangelho aos gentios?

7) Leia At 10:28; Ef 2:13-18 e responda: Qual o verdadeiro significado da visão dos animais mostrada a Pedro.

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[1] MARSHALL, I. H. Atos: Introdução e Comentário. São Paulo: Edições Vida Nova e Mundo Cristão, 1991, p.178.

[2] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. CIDADE? EDITORA? vol 3, p. 214.

[3] – O Novo Testamento Versículo por Versículo, Vol I, p 367.

[4] O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, p. 1119.

[5] YANCEY, Philip, Maravilhosa Graça, Editora Vida, São Paulo, 1999, p. 154/165

[6] YANCEY, Philip, Maravilhosa Graça, 1a Edição, Editora Vida, São Paulo, 1999 pp. 160-161.

Lição 3 - Todas as carnes são boas para o consumo humano?

ROMANOS 14:14
Esse texto ensina que todas as carnes
são boas para o consumo humano?

Autor: Pastor Enéias Manoel dos Santos
Lição Bíblica 273, sábado, 15 de outubro de 2005

OBJETIVO: Mostrar ao estudante que, ao contrário do que muita gente pensa e ensina, Rm 14:14 não é uma permissão para o crente comer de tudo o que deseja, pois à luz do contexto, o assunto central se refere apenas a carnes sacrificadas aos ídolos.

TEXTO BÁSICO: Eu sei e estou certo, no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si mesmo imunda, a não ser para aquele que a tem por imunda; para esse é imunda. (Rm 14:14)

INTRODUÇÃO: Como a maioria das epístolas doutrinárias de Paulo, Romanos contém uma seção prática. No Capítulo 14, mostra o dever do cristão para com os irmãos mais fracos. O versículo 14 do mesmo capítulo é um dos textos interpretados de forma equivocada, em defesa do uso de carnes impuras como alimento. Tais declarações são feitas sem o respeito às regras básicas de interpretação.

O bom senso nos diz que, para termos uma compreensão exata do texto, é necessário considerar o contexto social em que viviam os romanos; não estudar o versículo isoladamente, sem levar em conta todo o capítulo e o livro em que está inserido; considerar como Paulo tratou o mesmo assunto com outra igreja (cf. I e II Coríntios); observar, também, como a Bíblia, no seu todo, se refere a alimentos limpos e imundos. Sem respeitar essas regras básicas, não podemos alcançar um entendimento perfeito do versículo em seu sentido real. Neste estudo, serão apresentadas algumas interpretações deturpadas de Rm 14:14 e, em seguida, o sentido correto do que Paulo falou.

I – A INTERPRETAÇÃO ERRADA

Para dar suporte ao argumento de que a abstinência de carnes imundas não se aplica aos cristãos de hoje, muitos utilizam Rm 14:14. O que dizer sobre o texto em questão? Com base na primeira parte do versículo - Eu sei e estou certo, no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si mesma imunda –, afirmam que Paulo obteve do próprio Senhor uma nova revelação sobre a questão da comida. Ele foi persuadido e convencido pelo Senhor a acreditar dessa forma, pois Jesus, ao se referir sobre a pureza ou impureza dos alimentos, considerou (...) puros todos os alimentos (Mc 7:19). Paulo ensina-nos que é muito mais importante alguém estar persuadido por Cristo Jesus do que por Moisés, visto que A lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo (Jo 1:17). Por isso, não devemos evitar tais alimentos por força da imposição das leis mosaicas, porque a lei mosaica já não se aplica aos crentes do Novo Testamento. Com isso, Paulo mostrou possuir uma hierarquia de valores, dentro da qual Cristo ocupa o primeiro lugar, em todas as considerações. Assim é que devem ser as coisas, para o crente do Novo Testamento.

Quanto à segunda parte do versículo – a não ser para aquele que a tem por imunda; para esse é imunda – esses mesmos comentaristas argumentam que, de acordo com essa frase, a impureza do alimento é apenas uma questão de ponto de vista. Não tem nada haver com questão doutrinária. Assim, segundo eles, Paulo ensina que, se um crente gentílico, que sempre consumira todo tipo de alimento, quisesse continuar se alimentando da mesma forma, não haveria nada de errado em sua decisão, ainda que os outros considerassem repugnante tal hábito. Na própria fé cristã, nada haveria contrário a isso. Enquanto não se comprovar que algum artigo da alimentação é definidamente prejudicial à saúde, o crente está na inteira liberdade de comer o que bem desejar. Os alimentos proibidos, em Lv 11, foram proibidos apenas para os judeus, na época, por causa das condições precárias de higiene. Diante desta afirmativa perguntamos: Porque a higiene seria precária em se tratando das carnes imundas e não seria para as carnes permitidas?

II – A INTERPRETAÇÃO CORRETA

Entendendo o contexto do capítulo 14: Há quem diga que o texto trata de pessoas que, antes de se converterem a Cristo, viviam segundo os rigorosos e extremos preceitos do ascetismo - moral filosófica ou religiosa, adotadas entre os judeus e os gentios - que impunha severas regras de alimentação e disciplina, como meio de se alcançar a salvação do espírito. Talvez algumas dessas práticas ascetas ainda fossem usadas pelos recém-convertidos da igreja de Roma, que se abstinham de ingerir carne e vinho (Rm 14:21). É isso mesmo? Não. Se o problema fosse ascetismo, a reação de Paulo teria sido enérgica e incisiva – como foi em outras epístolas (Cl 2:4,16-23; I Tm 4:1-5) –, pois tal heresia era altamente destruidora e prejudicial. Há, ainda, uma outra explicação para a passagem. Para alguns, os crentes fracos seriam os legalistas, que continuavam acreditando que, para serem justificados e reconciliados com Deus precisavam observar as cerimônias judaicas. De fato, alguns judeus diziam que os cristãos precisariam tornar-se judeus para ser cristãos, e impunham-lhes, principalmente, a necessidade da circuncisão. Essa explicação é satisfatória? Não. Paulo seria assim tão manso e suave com quem pervertia o precioso evangelho de Cristo? De modo algum! Em suas outras cartas – principalmente a de Gálatas –, ele sempre aparece combatendo ardorosamente os ensinamentos dos legalistas (Gl 6:12-16).

Os cristãos dessa época tinham de conviver com uma sociedade paganizada, totalmente envolvida com a idolatria. Assim como ocorria no judaísmo, os sacrifícios de animais eram comuns em diversas religiões. Parte do animal era queimada sobre o altar; outra parte era exposta e vendida nos mercados da cidade. Para muitos cristãos judeus da Igreja de Roma, que tinham uma crença sensível, inculta, imatura, isso representava um seríssimo problema. Apesar de convertidos ao evangelho, esses fiéis ainda adotavam muitos dos procedimentos e regulamentos aprendidos na tradição judaica – que era o ensino verbal de hábitos, costumes e práticas, passados de geração em geração. Para eles, comer “a carne dos ídolos” significava participação e aprovação da idolatria. Agora, como eles podiam saber se a carne exposta e vendida nos mercados romanos não provinha de animais anteriormente consagrados aos deuses dos templos pagãos? Na verdade, não havia como saber. Assim sendo, a melhor solução achada pelos cristãos judeus, que tinham uma compreensão elementar da fé cristã, era não comer carne alguma, nem mesmo as permitidas por Deus, em Lv 11 e Dt 14. Com isso, eles corriam o risco de se contaminarem espiritualmente.

Os cristãos gentios (os fortes na fé), por sua vez, tinham um outro ponto de vista sobre as carnes sacrificadas às divindades. Para eles os ídolos não significavam nem representavam nada. De acordo com Bruce, “... entre os cristãos [os fortes na fé] havia alguns que possuíam uma consciência robusta e entendiam que a carne não piorava nem melhorava por sua associação com a divindade paga.” [1]

Com base nessa consciência emancipada e esclarecida, esses cristãos continuavam comprando e comendo as carnes vindas dos templos pagãos, sem nenhum tipo de senso de culpa. Esses “irmãos maduros” irritavam-se com os “irmãos imaturos”, tratando-os com desprezo. O clima, na igreja de Roma, era de discórdia, contenda, divisão e censura. Por isso, a igreja corria sério risco de desintegrar-se. Como dois grupos com opiniões pessoais bastante diferentes poderiam conviver de maneira respeitosa e harmoniosa, sem que houvesse julgamentos, condenações, discriminações? Foi o que o apóstolo procurou ensinar. Ele desejava, antes de tudo, que os “fracos na fé” fossem carregados e edificados pelos “fortes na fé”; também, que os mais fracos não se precipitassem em julgar os outros. Assim, ele os exortou a manterem unidade e a comunhão fraternal. Não se deve abandoná-los na sua fraqueza, como fazem aqueles que, cheios de aversão, afastam-se e só se preocupam com a salvação pessoal. (ESTÁ CONFUSO) Entendendo o sentido do versículo 14: À luz do contexto, como podemos interpretar corretamente a expressão paulina: Eu sei e estou certo, no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si mesmo imunda, a não ser para aquele que a tem por imunda; para esse é imunda? Para facilitar a compreensão, vamos dividir o versículo em três partes. Vamos à primeira: Eu sei, e estou certo no Senhor Jesus. Esta expressão, extremamente enfática, exprime a convicção de espírito do apóstolo. E mais: a sua convicção se apoiava na autoridade do Senhor Jesus. O que ele estava prestes a dizer não era resultado de auto-convencimento; ele fora convencido ou persuadido pelo próprio Senhor.

Do que Paulo fora convencido pelo Senhor? De que nenhuma coisa é de si mesmo imunda. É esta uma declaração de que todos os animais são limpos? É claro que Paulo não está usando o termo genericamente, pois, se o fizesse, teríamos de supor que todos os tipos de carnes seriam próprias para o consumo humano, o que não é verdade. Obviamente, sabemos que existem carnes impuras, isto é, prejudiciais em si mesmas.

Na primeira epístola aos Coríntios, encontramos uma expressão parecida: ... sabemos que o ídolo nada é no mundo (I Co 8:4). Aqui, Paulo está autorizando a igreja a praticar a idolatria? Se os ídolos nada são, por que Deus condena a idolatria? O que o apóstolo está afirmando a respeito dos ídolos é que eles, em si mesmos, não são divindade; não têm poder algum. O apóstolo está confirmando, aqui, a verdade relatada no Sl 115:4-6: Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos do homem. Têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não vêem; têm ouvidos, têm nariz, mas não cheiram. Os ídolos não representam Deus, e, sim, não representam coisa alguma. Comer alimentos sacrificados a ídolos é o mesmo que comer alimentos sacrificados a nada. Se os ídolos nada são, perguntamos: As carnes que lhes são oferecidas se tornam impuras? Não. O ídolo não tem, “em si mesmo”, a capacidade de afetar o crente maduro que come carne que lhe tenha sido oferecida. Não é a existência do ídolo, mas a sua divindade que Paulo nega. O ídolo, em si mesmo, nada é, mas a idolatria é pecado, por que os demônios se manifestam e trabalham na idolatria (I Co 10:19).

Portanto, quando Paulo diz: ... nenhuma coisa é de si mesmo imunda, não está, absolutamente, querendo afirmar que todas as carnes são puras. A expressão nada de si mesmo é imundo (Rm 14:14) não tem sentido genérico, mas específico; não se refere a todas as carnes, mas àquelas que, naquele momento, eram oferecidas aos ídolos. No sentido específico, dizer: nada de si mesmo é imundo é o mesmo que dizer: nenhuma dessas carnes que estão sendo aí oferecidas são imundas, porque se tratava de carnes que, segundo as regras de Lv 11 e Dt 14, eram limpas.

“... a não ser para aquele que assim o considera; para esse é imundo” (Rm 14:14). A primeira pessoa que classificou as carnes e considerou algumas como imundas foi o próprio Deus: Falou o Senhor a Moisés (...) destes, porém, não comereis (Lv 11:1-4). Então, se alguém considerar alguma carne imunda é porque está se baseando na palavra de Deus, e não há nenhuma censura a isso; ao contrário, trata-se de uma atitude louvável.

A palavra de Deus está acima de qualquer opinião ou entendimento humano; todo cristão conhecedor e fiel a Deus, diante de uma mesa com vários tipos de carnes, imediatamente, vai comparar com a palavra de Deus e identificar se se trata de alimento imundo ou não. Por outro lado, quem não conhece a Palavra considera tudo puro. Conclusão: A respeito de Romanos 14, concluímos que se trata de um texto escrito para desfazer a dúvida sobre se o cristão deveria ou não comer carnes sacrificadas aos ídolos; também, para sanar o problema do desprezo e do julgamento entre os irmãos e resolver o desconforto na igreja de Roma.

O texto de Rm 14:14 em nada tem a ver com Mc 7:14-19. Não ensina que todas as carnes são boas para o consumo humano. Não anula e nem contraria o que Deus determinou, em Lv 11 e Dt 14. Nossa fé deve ser apoiada numa firme convicção na palavra de Deus e nunca em opiniões particulares e sem apoio bíblico.

QUESTIONÁRIO

1) Para afirmar que todas as carnes são boas para o consumo humano, como é explicada a frase: “Eu sei, e estou certo no Senhor Jesus?”

2) O que muitas pessoas têm ensinado, baseadas na expressão: “Nenhuma coisa é de si mesmo imunda, a não ser para aquele que a tem por imunda; para esse é imunda?”

3) Compare Rm 14:1,3 com I Co 8:1,8,9,13 e responda: Qual foi a questão que levou Paulo a escrever Romanos 14? Por que e para que o referido texto foi escrito?

4) O que Paulo quis realmente ensinar, em Rm 14:3,13?

5) Em Rm 14:22-23 qual é o significado de ter fé?

6) Qual o significado real das palavras Eu sei, e estou certo no senhor Jesus?

7) Comente o sentido real sentido da expressão “nada de si mesmo é imundo”. Tem algo a ver com Mc 7:14-19?

8) Comente sobre a expressão a não ser para aquele que assim o considera; para esse é imundo?

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BÍBLIA SHEDD – Revista e Atualizada no Brasil, 2ª edição, 1998, Edições Vida Nova, São Paulo-SP.

BROADMAN - Comentário Bíblico Broadman, Volume 10, 1984, Rio de Janeiro.

BRUCE, F. F. - Romanos Introdução e comentário, Editora Mundo Cristão, 4ª edição 1986, São Paulo.

CHAMPLIN, Russel Norman - O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, Editora Milenium, volume 3, 1ª edição 1979.

GEISLER, Norman e HOWE, Thomas - Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia, Editora Mundo Cristão – 3ª edição, Julho de 1999.

GINGRICH, F. Wilbur e DANKER, Frederick W - Léxico do Novo Testamento Grego/Português, Edições Vida Nova, 1ª edição 1984.

LUND, E. / NELSON, P. C. - Hermenêutica, Editora Vida, 1968, Miami.

PFEIFFER, Charles F. e HARRISON, Everet F. - Comentário Bíblico Moody, Volume 5 Romanos a Apocalípse, Imprensa Bíblica Regular, Primeira Edição em Português, São Paulo, 1983.

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[1] BRUCE, F. F. Romanos – introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 4a ed, 1986, 201.

Lição 4 - O cristão está livre para comer de tudo o que se vende no mercado?

I CORÍNTIOS 10:25
Este texto indica que o Cristão está livre
para comer de tudo o que se vende
no mercado?

Autor: Pastor Genilson Soares da Silva
Lição Bíblica 273, sábado, 22 de outubro de 2005

OBJETIVO: Mostrar a interpretação distorcida de I Co 10:25; explicar corretamente o seu verdadeiro significado.

TEXTO BÁSICO: Comei de tudo o que se vende no mercado, sem nada perguntardes por motivo de consciência. (I Co 10:25)

INTRODUÇÃO: Antes de “conhecermos” e “desfazermos” as interpretações defeituosas dadas ao texto-base desta lição, façamos um rápido “passeio” pela história da cidade de Corinto. A famosa Corinto, que, nos dias de Paulo, tinha por volta de 700.000 moradores, fora destruída pelo cônsul romano L. Múmio, em 146 a.C. Tempos depois – 46 d.C – foi reconstruída por Júlio Cezar, como colônia romana. Em breve, tornou-se capital da província romana da Acaia. Devido a sua privilegiada localização geográfica – entre os Mares Egeu e Asiático –, Corinto se tornou um famoso e próspero centro cultural, político, comercial e religioso. Por ser um lugar de fácil acesso – entre dois portos – a cidade era bastante visitada por pessoas que buscavam diversão.

De fato, Corinto era a “cidade dos prazeres”. Sobre isso, Gundry[1], ao retratar a grandeza e a estrutura da “indústria da diversão” de Corinto, mostra que os jogos atléticos em Corinto perdiam apenas para os jogos olímpicos. O teatro livre acomodava vinte mil pessoas, e o teatro fechado, três mil. Templos, santuários e altares estavam espalhados pela cidade. Cerca de mil prostitutas sagradas estavam à disposição, no templo da deusa grega Afrodite. No lado sul do mercado, havia várias tavernas equipadas com cisternas subterrâneas para esfriar as bebidas.

Pelo fato de serem liberais e flexíveis, os coríntios tornaram-se tão famosos pelas suas imoralidades que a palavra Korinthiazomai – agir como um coríntio – tornou-se sinônimo de devassidão, prostituição, paganismo e sensualidade.

I - A INTERPRETAÇÃO ERRADA

Muitos dizem que esse versículo – comei de tudo o que se vende no mercado, sem nada perguntardes por motivo de consciência – ensina que o cristão está livre para comprar e comer de tudo o que se vende no mercado. Alguns pensam assim sobre o texto em questão porque se deixaram influenciar por interpretações de comentaristas, que, intencionalmente, abandonaram os princípios e as diretrizes da hermenêutica – disciplina teológica que fornece os princípios básicos para a interpretação correta de uma passagem das Escrituras Sagradas -, incorrendo em explicações distorcidas e deturpadas.

Um exemplo de interpretação aberrante sobre a afirmação paulina é a proposta pelo comentarista Champlin: Naturalmente o princípio exarado [mencionado] nessa citação é mais amplo ainda, destruindo completamente a necessidade de qualquer cerimonial, a exemplo dos rituais do judaísmo, no tocante as alimentos. Dentro do pacto neotestamentário o crente pode comer porco, cão, répteis, camelo, etc., se assim lhe parecer melhor. Nenhuma criatura por si mesma é impura, conforme a lei judaica determinava. Tais idéias não tinha por intuito ser permanentes. Porquanto a liberdade cristã nos livrou de tais questões.[2]

Diante de uma explicação tão surpreendente, perguntamos: O que Champlin está dizendo sobre o texto é certo? Era isso que o escritor da epístola aos coríntios pretendia transmitir? Esse conceito está correto? Por que está ou por que não o está? Essa explicação reflete o significado da passagem? É o que veremos na seqüência, na parte que trata da “Interpretação Correta”.

1. Com base na introdução, responda: O que se sabe sobre a cidade de Corinto?

2. Qual interpretação errada tem sido dada à expressão comei de tudo o que se vende no mercado? Baseie-se no primeiro comentário.

II - A INTERPRETAÇÃO CORRETA

Temos enfatizado, desde o início desta série de lições, a importância de interpretarmos as passagens das Sagradas Escrituras, sem desconsiderarmos os seus respectivos contextos bíblicos. Isto é essencial, porque ignorar o contexto acarreta interpretações falsas. Vejamos um exemplo: Quem faz missões, gosta de citar Salmo 2:8 – ... pede-me, e eu te darei as nações por herança e os confins da terra por tua possessão – para ilustrar suas expectativas de conversões nos campos missionários. Todavia, se o versículo anterior for verificado, ficamos sabendo que se trata de Deus Pai falando a Deus Filho (At 13:33; Hb 1:5). Logo, não tem nada haver com missões!

Por que citamos esse exemplo? Porque o mesmo princípio pode também ser aplicado para explicar o sentido da expressão comei de tudo o que se vende no mercado, que é interpretada erroneamente como mandamento para se comer o que quiser. Mas essa é uma conclusão que o versículo não pode sustentar nem significar, porque, se o contexto do versículo for analisado, tal conclusão ficará seguramente excluída. Pois bem, qual é, então, o contexto de comei de tudo o que se vende no mercado? Que quer dizer essa passagem?

Ao examinarmos o contexto do parágrafo, que começa em 10:23 e termina em 10:33, vemos que o conteúdo diz respeito a uma resposta do apóstolo sobre a postura a ser adotada, pelos que faziam parte da igreja, quanto ao consumo de alimentos ofertados às divindades. Os crentes de Corinto enviaram a Paulo, através de Estéfanas, Fortunato e Arcaico (7:1), uma carta com uma lista de perguntas sobre vários assuntos que estavam causando divisões, desordens, e conflitos na igreja: matrimônio (7:1-40), as coisas oferecidas aos ídolos (8:1 – 11:1), o culto público (11:2 – 14:40), a ressurreição (15:1-58) e a coleta para Jerusalém (16:1-4).

O trecho de I Co 10:23-33 faz parte de um extenso contexto em que o apóstolo responde à pergunta a respeito das comidas utilizadas na idolatria (8:1 – 11:1). É nesse contexto que aparece a sentença comei de tudo o que se vende no mercado. Mas o que tem a ver esse mercado? De acordo com Morris (REF. BIBLIOGRÁFICA?), a maior parte da carne vendida nos mercados era sacrificada. Uma parte do animal sempre era oferecida em um altar a um deus, outra parte era dada aos sacerdotes e, normalmente, uma terceira parte era distribuída aos adoradores. Os sacerdotes, costumeiramente, vendiam o que não conseguiam usar. Seria muito difícil saber com certeza se a carne em determinado mercado tinha sido parte de um sacrifício ou não. Alguns, em Corinto, porém, alegando que um ídolo não tinha existência, sustentavam que essas carnes de ídolos eram limpas. Do ponto de vista teológico, eles estavam corretos, pois os ídolos não são coisa alguma. O próprio Paulo afirmou: ... sabemos que o ídolo nada é no mundo e que não há outro Deus, senão um só. Porque, ainda que haja também alguns que se chamem deuses (...). Todavia, para nós há um só Deus, o Pai (8:4-6).

Mas isso não é tudo! Esse tipo de saber não estava edificando a igreja, pois não se estava levando em conta que nem todos conheciam ou entendiam essa profunda verdade bíblica. Paulo, então, advertiu de que ... existem pessoas tão acostumadas com os ídolos, que até agora comem desses alimentos, pensando que eles pertencem aos ídolos. A consciência dessas pessoas é fraca, e por isso elas se sentem impuras quando comem desses alimentos. (I Co 8:7 – NTLH)

Embora, teologicamente, nada houvesse de errado em comer a carne, isto, contudo, feria a consciência de outro irmão (I Co 8:10,12, 10:29). Insistir nessa prática, enquanto outro se ofendia, seria viver sem amor pelo irmão. Mesmo que este não tivesse uma teologia correta sobre os ídolos, deveria ser respeitado pelos demais. Paulo propôs que, por amor ao irmão de crença frágil, os demais mudassem de atitude (I Co 10:31–11:1).

Ainda assim o prezado estudante pode perguntar: O texto em questão – I Co 10:25 – pode ter mais de um significado? Não. Um texto só pode ter mais de um significado ou mais de uma interpretação, se o contexto nos apresentar claramente essa alternativa. Como o contexto (I Co 8:1–11:1) apresenta somente uma única possibilidade de interpretação – o problema dos alimentos dedicados à idolatria –, devemos nos contentar. Além disso, vale dizer que um texto jamais pode significar aquilo que nunca poderá ter significado para seu escritor (apóstolo) ou seus leitores (coríntios). Esse princípio nem sempre ajuda as pessoas a descobrirem o que um texto significa, mas aos menos ajuda a estabelecer limites, quanto àquilo que não pode significar[3].

O comei de tudo o que se vende no mercado, sem nada perguntardes por motivo de consciência foi explicado corretamente. Mas isso não basta. Falta-nos saber como tudo isso se aplica a nossa vida cristã. Que atitude devemos tomar em relação ao que aprendemos? Vamos apontar apenas dois princípios práticos. Em primeiro lugar, devemos tomar cuidado com o amor excessivo pela verdade. Uma pessoa que se considera protetora da verdade é capaz de matar ou destruir para defendê-la, mesmo que seja a verdade do amor. Infelizmente, a história da igreja tem mostrado que verdade rima com violência. Religião e violência têm uma estranha relação, estranha porque a verdade deve ser vivida com amor (Ef 4:15).

As maiores dificuldades de Jesus se deram por causa dos defensores da verdade. Seus próprios discípulos foram advertidos do perigo. Tendo entrado num povoado samaritano, o Mestre não foi recebido. Tiago e João quiseram utilizar a violência para defender a verdade, personificada em Jesus (Jo 14:5). Jesus os repreendeu veementemente (Lc 9:54-55). Da mesma forma, por causa da verdade de que os ídolos não significam coisa alguma no mundo, muitos estavam destruindo a unidade e a comunhão da igreja de Corinto. Siga a verdade. Viva a verdade. Mas não esqueça de amar!

Em segundo lugar, devemos evitar ser instrumentos de obstáculos na igreja de Deus. Paulo nos adverte de que não devemos por tropeços diante das pessoas, por causa das nossas atitudes (I Co 10:32). Os que são maduros na fé (os mais instruídos na palavra de Deus) devem aprender a conviver com os imaturos na fé (os menos instruídos na palavra de Deus). Mesmo que consideremos algo não-reprovável, se um irmão em cristo o considera reprovável, não devemos afrontar sua consciência. Há coisas e idéias cujo abandono não implica perda, mas lucro, para o bem-estar do corpo de Cristo, a igreja. As pessoas, na igreja, são desiguais, quanto ao conhecimento e o amadurecimento espiritual, em vários assuntos, e isso deve ser levado em conta, quando se trata de liberdade. Um crente novo, por exemplo, tem muito que aprender sobre a vida cristã, e não pode aquele que já tem muitos anos de convertido ferir sua fé, com prática que o escandalize e o prejudique em seu desenvolvimento espiritual. Por isso, em seu comportamento, não deve procurar somente seus próprios interesses, mas também o de seu novo irmão em Cristo (I Co 10:24).

CONCLUSÃO:

Ficou claro, portanto, que, ao inspirar e permitir que o apóstolo Paulo registrasse comei de tudo o que se vende no mercado, sem nada perguntardes por motivo de consciência, o Espírito Santo nunca pretendeu invalidar ou modificar os divinos preceitos universais de Lv 11 e Dt 14, também escritos sob sua inspiração e supervisão. Por ser um livro divino, a Bíblia Sagrada não se contradiz, pois possui unidade e coerência. Assim sendo, ela interpreta a si mesma. Ainda assim, a interpretação da mensagem bíblica é uma tarefa importante que deve ser feita em oração, com seriedade, humildade e cuidado.

QUESTIONÁRIO

03. Por que o exame do contexto bíblico facilita a interpretação de uma passagem bíblica? Exemplifique, usando Sl 2:8, citado no começo do segundo comentário.

04. Com base no comentário, responda: Qual é o conteúdo do contexto de I Co 10:25?

05. Qual é a verdadeira interpretação das palavras comei de tudo o que se vende no mercado?

06. Leia I Co 8:1-2,4-7 e responda: Por que o amor excessivo pela verdade pode ser perigoso para a unidade e a comunhão da Igreja de Deus? Baseie-se também no comentário.

07. Leia I Co 8:9-13, 10:23,31-33 e explique a expressão: “devemos evitar ser instrumentos de obstáculos na Igreja de Deus”.

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[1] Citado por Lawrence RICHARDS, Comentário Bíblico do Professor, São Paulo, Vida, 2004, p. 969-70.

[2] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo, Hagnos, 1998, vol. 04, p. 162.

[3] Roy B. ZUCK, A Interpretação da Bíblia: meios de descobrir as verdades da Bíblia, São Paulo, Vida Nova, 1994, p. 123-129.

Lição 5 - O cristão pode comer todos os tipos de carne?

I TIMÓTEO 4:4-5
Esse texto prova que o cristão pode comer todos os tipos de carne?

Autor: Pastor José Lima de Farias Filho
Lição Bíblica 273, sábado, 29 de outubro de 2005

OBJETIVO: Mostrar ao estudante o sentido teológico correto do ensino do apóstolo Paulo, em I Tm 4:4, e motivá-lo a praticar essa verdade, em seu dia-a-dia

TEXTO BÁSICO: Porque toda criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebida com ações de graça. Porque pela palavra de deus e pela oração é santificada. ( I Tm 4:4-5 )

Adicionando conteúdo.

Lição 6 - A Lei de Deus vigorou apenas até a vinda de João Batista?

LUCAS 16:16
Esse texto afirma que a Lei de Deus
vigorou apenas até a vinda de João Batista?

Autor: Pastor Guilherme Nunes
Lição Bíblica 273, sábado, 05 de novembro de 2005

OBJETIVO: Através da análise do contexto bíblico, mostrar ao estudante que, em Lc 16:16, Jesus não aboliu a lei de Deus, e, por isso, os salvos por ele não estão desobrigados de a praticarem.

TEXTO BÁSICO: A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus, e todo homem emprega força para entrar nele. (Lc 16:16)

INTRODUÇÃO: Nos estudos antecedentes, explicamos os textos da Bíblia que mais causam polêmica, quanto à dieta cristã, e provamos que a doutrina da abstinência de alimentos impuros não foi abolida na Nova Aliança firmada por Cristo. A partir de agora, passaremos a explicar nove textos sagrados sobre a lei de Deus, cuja expressão maior é os Dez Mandamentos, a fim de provarmos que ela, a exemplo da abstinência, não foi abolida por Cristo.

É fato que a maioria das discussões cristãs sobre a lei de Deus é marcada por extremos: de um lado, os legalistas (a favor da lei) afirmam que a salvação é conseguida somente pela guarda dos mandamentos; de outro, os antinomistas (contra a lei) afirmam que a salvação é conseguida sem a guarda dos mandamentos. De seu lado, o legalismo enaltece a lei e despreza a graça; por sua vez, o antinomismo enaltece a graça e despreza a lei. Nos extremos em que se colocaram, ambas as visões estão afastadas da verdade do evangelho de Cristo.

A igreja do Senhor Jesus não pode se posicionar por nenhum desses extremos; ela deve buscar compreender corretamente esses pontos que fazem parte dos fundamentos da salvação. Por essa razão, é necessário deixar as paixões de lado e assumir a posição de equilíbrio que a Bíblia apresenta, isto é, que a salvação é adquirida única e exclusivamente pela graça de Deus, através da fé em Jesus Cristo (At 15:11; Rm 5:15, 11:6; Ef 2:1-10; Hb 2:9), mas que é um processo: tem início (I Pe 1:3,18, 4:3), meio (I Pe 1:14-16, 2:1) e fim (I Pe 1:7, 5:7,10). Por essa razão é que Jesus dá aos salvos seu eterno poder e os capacita a obedecer aos mandamentos de Deus (Ap 12:17, 14:12).

Como contribuição para a busca desse equilíbrio, neste estudo, analisaremos as palavras de Jesus, em Lc 16:16, à luz do seu contexto, a fim de provarmos que o Deus da graça, o Salvador Jesus, não invalidou ou aboliu os mandamentos divinos.

I - A INTERPRETAÇÃO ERRADA

Os antinomistas afirmam que a lei de Deus foi abolida e usam Lc 16:16 na tentativa de incutir na mente dos incautos que essa suposta inutilidade da lei divina teria sido feita por Cristo. Dizem tais pessoas que, se a lei durou até João, os cristãos não lhe estão mais sujeitos e que, hoje, a graça os isenta de qualquer responsabilidade ou obediência aos ditames divinos. Segundo o teólogo Linder, o antinomismo ... refere-se à doutrina de que não é necessário aos cristãos pregarem ou obedecerem à lei moral do Antigo Testamento [e por essa razão] alguns tem ensinado que uma vez que as pessoas são justificadas pela fé em Cristo, já não tem qualquer obrigação para com a lei moral, porque Jesus os libertou.[1]

Esse ataque à lei divina é fruto de uma má aplicação das regras de interpretação das Escrituras (hermenêutica), o que leva muitos a concluírem que Jesus estipulou o tempo determinado para a existência da lei moral, ou seja, que sua validade não ultrapassaria o ministério de João Batista. Essas interpretações deficientes afirmam que Guardar a Lei era o alvo máximo do farisaísmo. Mas este não é mais um alvo válido, hoje em dia. A Lei e os Profetas consistiam em uma fase da história da redenção, que terminou com João, último profeta daquela era. [2]

E há quem afirme que, em Lc 16:16, Jesus apenas profetizou aquilo que ele iria fazer, na cruz, após a morte de João, isto é, eliminar o “peso” da lei. Seja qual for a desculpa utilizada, os antinomistas acabam por demonstrar uma espécie de fobia à santa lei de Deus e procuram reeditar argumentos inconsistentes, na vã tentativa de mascarar a verdade, o que é impossível, porque tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar (Ec 3:14).

II - A INTERPRETAÇÃO CORRETA

Quando Jesus declarou que A lei e os profetas duraram até João, em hipótese alguma estava afirmando que a Lei de Deus e as profecias do Antigo Testamento haviam chegado ao fim. Quando analisamos o contexto imediato e amplo, percebemos que, desde 14:7, Lucas apresenta Jesus contando parábolas sobre a entrada dos pecadores no Reino de Deus. No capítulo 16, Cristo conta a parábola do administrador infiel, para condenar o mau uso das riquezas no seu Reino. Os fariseus murmuravam contra essa visão ética de Cristo, porque eles usavam o poder econômico com motivações erradas, isto é, davam esmolas aos pobres para serem bem-vistos pelos homens, seguros de que, agindo assim, estavam cumprindo a Lei e os Profetas e assegurando seu lugar no Reino do Pai. Porém, o Senhor Jesus mostrou que eles estavam enganados sobre a visão que tinham de Deus e de seu reino (Mt 6:1). Até aquele momento, os judeus conheciam a Deus através da Lei (especialmente o Pentateuco – Gênesis a Deuteronômio) e dos escritos proféticos. No Antigo Testamento, estavam descritas todas as alianças que Deus fizera com Israel, para que esse povo fosse a luz para as nações, a porta de entrada do mundo no Reino de Deus (Is 42:5-7). Mas eles se fecharam num exclusivismo rígido, porque interpretaram sua eleição como uma questão de merecimento, a ponto de odiarem os outros povos. Falharam, quebraram os acordos contidos na Lei; então, Deus levantou os profetas para denunciar a falha de Israel, chamá-lo ao arrependimento e anunciar que faria um novo e definitivo acordo que proporcionaria ao mundo inteiro condições de acesso direto ao reino de Deus, através do Messias.

O período em que Israel teve a oportunidade de ser o instrumento de Deus para salvar o mundo passou pela Lei (com Moisés), pelas profecias (com os Profetas) e veio até o precursor de Cristo (João Batista), o homem que introduziu a era messiânica. Foi nesse contexto que Jesus fez a declaração que ora analisamos. Toda a estrutura teológica do Antigo Testamento estava a serviço do Messias.

A Nova Tradução na Linguagem de Hoje – NTLH –captou bem o sentido teológico do texto, em Mateus 11:13: Até o tempo de João, todos os Profetas e a Lei de Moisés falaram a respeito do Reino. “O Reino” é o próprio Cristo. A Lei e os Profetas falavam de um período que estava começando ali, naquele momento, com Jesus; é ele mesmo quem explica isso: Enquanto ainda estava com vocês, eu disse que tinha de acontecer tudo o que estava escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos livros dos Profetas e nos Salmos (Lc 24:44 - NTLH).

Temos outro fator a favor de que Jesus, ao fazer a declaração registrada em Lc 16:16, não estava invalidando a Lei divina: Ao transpor este texto do grego para o português, na tradução RC da Bíblia, o tradutor fez uma inserção do verbo “durar”, conjugado na terceira pessoa do plural, no pretérito perfeito do indicativo – “duraram” –, ou seja, ele acrescentou ao texto essa forma verbal, que não consta nos originais.

Dessa forma, entendemos o versículo assim: A lei e os profetas, que foram dados aos judeus, como instrumentos de salvação para o mundo, serviram como instrumento divino para a manifestação do reino, e isso durou até João, que preparou o caminho para o Messias, e este, desde então anuncia definitiva e plena o reino de Deus (cf. Lc 4:43; Mc 1:14-15). Com isso, Cristo não está desprezando a Lei e os Profetas, mas declarando que é superior a todos os instrumentos utilizados até então por seu Pai (a Lei e os Profetas) para conduzir os pecadores ao Reino Celeste. Por isso, afirmou: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim (Jo 14:6).

Ele é o Senhor do Reino; a Lei e os Profetas são servos. Com ele, a porta que os judeus haviam fechado para os gentios (cf. Lc 13:10-17,24-30, 15:11-32; Mt 23:13) agora está aberta (Mt 7:8; Jo 10:7-9), e todo homem emprega força para entrar nele [no Reino], isto é, todos os pecadores precisam ter fé exclusiva em Cristo e coragem para vencerem todos os obstáculos, a fim de entrarem no Reino.

Portanto, em Lc 16:16, Jesus não está abolindo a Lei de Deus; em vez disso, está afirmando que, até aquele momento, ela era a referência para a entrada no Reino, mas que, a partir de então, ele é a entrada e a Lei é o padrão da qualidade moral e espiritual de vida no Reino (Rm 2:12,14-15; Mc 12:28-31). É por essa razão que Cristo enaltece a Lei, logo no versículo seguinte: E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da Lei (Lc 16:17), e, na seqüência, como símbolo da vigência da Lei, exige obediência a um dos mandamentos mais quebrados, em todos os tempos: o adultério (Lc 16:18). Em outras ocasiões, ele exaltou a lei divina declarando que não veio destruí-la, mas cumpri-la (Mt 5:17); enalteceu os cumpridores da lei, afirmando que serão grandes no reino dos céus (Mt 5:19); também imprimiu mais rigor à lei, quando afirmou que a ofensa ao próximo constitui assassinato (Mt 5:21-22) e que o olhar impuro lançado a uma mulher constitui adultério (Mt 5:27-28).

Tivesse a lei de Deus durado somente até João, Cristo não teria mandado o jovem rico guardar os mandamentos (Mt 19:170), não teria exigido obediência dos escribas e fariseus (Mt 23:23) e dos seus discípulos (Jo 14:15,21); Paulo não teria afirmado que os salvos justificados por Deus são aqueles que estão em obediência a seus mandamentos (Rm 2:13), que a obediência à lei é a expressão maior da verdadeira fé (Rm 3:31) e que a lei é santa (Rm 7:21). Este apóstolo, fervoroso defensor da salvação pela graça, declara que tinha prazer na lei de Deus (Rm 7:22). Bem doutrinado, Paulo sabia que, se não há mais lei, então não há pecado, pois o pecado é a transgressão da lei (I Jo 3:4; Rm 4:15). Por isso, a Lei é eterna (Sl 78:7, 111:7-8, 119:96,160; Is 24:5), é útil no Reino (II Tm 3:16 e 17) e é válida não apenas para os judeus, mas para todos os povos (Sl 105:7; Is 51:4). Todos os escritores do Novo Testamento enalteceram a lei de Deus, porque sabiam que ela não perdeu sua utilidade a partir de João (Rm 3:9; I Jo 2:4,22,24; 5:2-3; II Jo 1:6; Ap 12:17, 14:12).

CONCLUSÃO: Chegamos à inevitável conclusão de que as palavras de Jesus, em Lc 16:16 não oferecem base para o desrespeito à lei de Deus. O que o Senhor disse foi que o Antigo Testamento (a Lei e os Profetas) atingiu seu objetivo maior na época de João Batista, o homem que foi movido pelo Espírito Santo para apresentar o Messias ao mundo. A partir de então, Cristo assumiu o comando da salvação da humanidade, e a Lei passou a agir como orientadora, visando manter os salvos no Reino de Deus, até o regresso do Senhor.

Portanto, não podemos ser antinomistas nem legalistas, pois cremos que a salvação é pela graça, mediante a fé (Ef 2:6-7) e cremos que o salvo demonstra a salvação através de uma vida de obediência e de boas obras (Mt 3:8; Jo 15:16). Reiteramos que a obediência aos mandamentos não é o meio para obtermos a salvação, mas é uma conseqüência da salvação que nos foi concedida (Hb 5:9: Mt 7:21). Por isso, os adventistas da promessa não têm de ter envergonha de serem defensores da vigência da Lei de Deus; antes, devem demonstrar sua fé na graça de Cristo, ter prazer de praticar a lei do Senhor (Sl 119:77) e sempre orar: Abre os meus olhos [Senhor] para que eu possa ver as verdades maravilhosas da tua lei (Sl 119:18).

QUESTIONÁRIO:

1) Como os defensores da extinção da lei de Deus interpretam Lc 16:16?

2) Com base no segundo comentário, explique qual o contexto de Lc 16:16.

3) Ainda com base no segundo comentário, explique a interpretação correta de Lc 16:16.

4) Em que sentido Lc 24:44 confirma a interpretação correta de Lc 16:16?

5) Com base em Mt 5:17-22; Rm 2:13; 3:31, 7:12; Sl 119:96, 111:7-8; II Tm 3:16-17, explique por que a lei de Deus não perdeu sua validade, depois de João Batista.

6) Da interpretação correta e da interpretação incorreta, que lições você tira para a sua vida espiritual?

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[1] Enciclopédia Histórico-teológica da Igreja Cristã, Vol I, pp. 84-85, Vida Nova, São Paulo-SP.

[2] Comentário Bíblico Broadman. Rio de Janeiro: Juerp, 1983, Vol 9, p.159.

Lição 7 - Os apóstolos observavam o domingo como dia de adoração?

Atos 20:7
Esse texto afirma que os apóstolos
observavam o domingo como dia
de adoração?


Autor: Pastor Genésio Mendes
Lição Bíblica 273, sábado, 12 de novembro de 2005

OBJETIVO: Mostrar ao estudante da palavra de Deus que, ao contrário do que muito declaram, At 20:7 não ensina que o dia de adoração da igreja primitiva era o primeiro dia da semana.

TEXTO BÁSICO: No primeiro dia da semana, estando nós reunidos com o fim de partir o pão, Paulo, que havia de seguir viagem no dia imediato, exortava-os e prolongou o discurso até meia noite. (At 20:7)

INTRODUÇÃO: Esse é um dos textos bíblicos usados pelos defensores da guarda do primeiro dia da semana, como dia santificado para a adoração a Deus. Nesta Lição, vamos colocar a posição daqueles que são contrários à observância do sábado como dia de adoração e, depois, a posição que realmente o texto ensina.
O esforço dos escritores de provar a santificação do primeiro dia cai por terra, quando analisamos os textos apresentados, nos quais nenhuma ordem expressa se acha declarando ser o primeiro dia separado para o descanso. Nem Jesus, nem os apóstolos fazem qualquer alusão a essa ordenança. Ela se baseia apenas na suposição de que Jesus teria ressuscitado no primeiro dia, tornando-se daí em diante, dia de guarda.

I - A INTERPRETAÇÃO ERRADA

Muitos escritores declaram que At 20:7 é uma evidência convincente de que a igreja do primeiro século adotava o domingo para a adoração a Deus. Essa é a opinião do comentarista Champlin: Esta passagem é interessante e importante, no que tange aos primitivos hábitos dos crentes se reunirem para a sua adoração regular em um primeiro dia da semana. Devemos observar que essa reunião ocorreu em um primeiro dia da semana, ou domingo e que foi uma reunião formal dos cristãos, para algum propósito, o que fica demonstrado pelo fato de que tiveram a cerimônia do partir do pão, isto é a Ceia do Senhor. Essa modificação no dia da adoração — do sábado para o domingo — não ocorreu por qualquer decreto de um concílio, pelo contrário, verificou-se gradualmente na prática de todos os dias.[1] Um outro escritor, seguindo a mesmo raciocínio defendido por Champlin, declara: Não temos nenhum registro explícito de quando nem porque os cristãos fizeram do domingo o dia especial de seu culto a Deus; mas a inferência clara é de que assim agiram espontaneamente, pelo fato de Jesus haver ressuscitado nesse dia. A boa nova da ressurreição de Jesus naturalmente os levou a reunirem-se naquele memorável ‘primeiro dia da semana’, e novamente estavam reunidos no domingo seguinte (ver João 20:1 e 26)[2]. Alguns comentaristas ainda interpretam a expressão “partir o pão” como sendo uma referência ao ágape (festa do amor) ou mesmo à Ceia do Senhor, ou a ambas.

1. De acordo com a interpretação dos diversos autores, qual seria o dia de adoração da igreja primitiva e por quê?

2. Como alguns comentaristas interpretam a expressão “partir o pão”?

II - A INTERPRETAÇÃO CORRETA

Em sua terceira viagem missionária, Paulo chega a Éfeso, onde prega o evangelho e opera prodígios, todos os sábados, na sinagoga. Muitos que viviam envolvidos com o ocultismo se converteram à mensagem evangélica. Assim, ... muitos dos que tinham crido vinham, confessando e publicando os seus feitos. Também muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros e os queimaram na presença de todos, e, feita a conta do seu preço, acharam que montava a cinqüenta mil peças de prata. (At 19:19-20)

Essas conversões mexeram com as estruturas comercias da cidade, onde havia o templo da influente e aclamada deusa Diana. Essa deusa sustentava a rentável indústria da idolatria, pois vários artífices faziam e vendiam imagens de prata dela. Com a queda nas vendas, um homem chamado Demétrio realizou uma reunião com os artífices. Explicou-lhes que os prejuízos comerciais estavam relacionados à pregação do apóstolo Paulo, que era contrária à idolatria. Se essa pregação continuasse, o comércio e a religião dos efésios seriam brevemente destruídos (Ef 19:27).

Demétrio provou ser um excelente agitador, pois a resposta dos artesãos foi imediata. O discurso malicioso de Demétrio despertou a histeria da multidão:

Ouvindo isto, encheram-se de ira e clamaram, dizendo: Grande é a Diana dos efésios! E encheu-se de confusão toda a cidade. (At 19:28-29) Eles se encontraram no anfiteatro da cidade e, por duas horas, gritaram: Grande é a Diana dos efésios! Se não fosse a habilidade do secretário da prefeitura da cidade, que conseguiu dispersar o ajuntamento popular, o conflito teria acabado em tragédia (At 19:35-40).

Quando terminou aquela confusão, Paulo chamou os discípulos e lhes deu muitos conselhos. Depois, despediu-se deles e seguiu para a província da Macedônia, região da Europa, ao norte da Grécia. Ele percorreu aquelas terras, fortalecendo os discípulos com muitas exortações. Depois dessas viagens macedônicas, Paulo dirigiu-se para a Grécia, e, provavelmente, em Corinto, ele se demorou três meses, enquanto esperava a estação apropriada para embarcar rumo à Síria. Mas, quando estava pronto para viajar, soube que havia uma conspiração por parte dos judeus contra ele. Na última hora, Paulo decidiu alterar o itinerário: determinou voltar pela Macedônia (At 20:2-3)

Paulo viaja para Trôade – porto que ficava a oeste da atual Turquia. Nessa cidade, permaneceu sete dias. Stott observa que Lucas relata apenas um acontecimento durante essa semana em Trôade: o sono, a queda, a morte e a ressurreição dramática de um jovem chamado Êutico. Mas a história é também instrutiva na área do culto cristão primitivo, porque aconteceu no contexto de um culto.[3]

Ele diz isso por causa dessa afirmação de Lucas:
... no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e alargou a prática até à meia-noite. Esse “primeiro dia da semana” se referia ao sábado à noite ou ao domingo à noite? A interpretação desse “primeiro dia” depende da maneira como pensamos que Lucas contava o dia: como os judeus (a partir do pôr do sol) ou como os romanos (a partir da meia-noite), observa o mesmo Stott. A NTLH optou pelo sábado à noite:
No sábado à noite nós nos reunimos com os irmãos para partir o pão. Paulo falou nessa reunião e continuou falando até a meia-noite, pois ia viajar no dia seguinte. No texto grego, porém, não existe nenhuma expressão que possa ser traduzida por “primeiro dia da semana”. No Novo Testamento Interlinear, que traduz, rigorosamente, palavra por palavra, do grego para o nosso idioma, o versículo encontra-se traduzido da seguinte maneira:
Em, porém, o um dos sábados, tendo conduzido juntos nós quebrar pão, o Paulo discursava-lhe, estando para ir-se de no sobre a manhã, estendeu ao lado e a palavra até meia noite[4]. Uma tradução correta do texto grego seria:
No sábado, estando nós reunidos com o fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir viagem no dia imediato, exortava-os.

Seguindo essa tradução, concluímos que o culto em Trôade começou durante o sábado, isto é, antes do pôr-do-sol, e não no domingo à noite, e prolongou-se até a meia-noite. Um outro fato grave que a tradução do Novo Testamento Interlinear deixa claro é que as versões RA e RC traduziram erroneamente o versículo. A NTLH seria perfeita, se não tivesse acrescentado, por conta própria, o “à noite”, logo depois da expressão “No sábado”. Obviamente, esses problemas de tradução não são produtos de ignorância ou descuido, pois os que fazem parte das equipes de tradução – que são contra a observância do sábado, como dia de adoração e descanso - dominam, mais que qualquer outra pessoa, a língua grega.

Ainda há uma outra questão que merece explicação. Trata-se da expressão “partir o pão” que é usada, como vimos no comentário anterior, como referência à Ceia do Senhor. Essa expressão era usada, naqueles dias, para se referir a uma refeição comum (At 2:46). Pelo avanço da hora, naquela noite, parece-nos mais tratar-se realmente de uma refeição comum. Dois outros textos paralelos utilizados pelos defensores o domingo como dia de adoração a Deus são Jo 20:26 e I Co 16:2. O primeiro texto diz:
Passados oito dias, estavam outra vez ali reunidos os seus discípulos, e Tomé, com eles. Estando as portas trancadas, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco!

Quem disse que esse texto descreve uma reunião de adoração? O que eles estavam fazendo? Estavam se protegendo ou se escondendo dos judeus. O v. 21 deixa isso claro:
Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco!

O outro texto, o de I Co 16:2, onde lemos:
... no primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for também não serve para defender o domingo como dia de adoração. Ao recorrermos novamente ao Novo Testamento Interlinear, veremos que, nessa passagem, também há problema nas traduções mais conhecidas:
Conforme um de sábado cada um de vós ao lado de si mesmo coloque entesourado o que quer que se seja encaminhado para que não, quando que vá, então coletas venham ocorrer.

No texto grego, não aparece nenhuma expressão que possa ser traduzido por “primeiro dia da semana” ou “todos os domingos” (NTLH). Aparece, sim, a palavra grega sabatou(Verificar Transliteração), cujo primeiro significado alistado no Léxico do Novo Testamento Grego/Português é “sábado, o sétimo dia da semana, considerado sagrado pelos judeus”[5] A expressão “em casa” também não consta no texto grego. Logo, a tradução mais apropriada para o versículo seria: Todos os sábados, cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar.

Fica claro, portanto, que, realmente, no Novo Testamento, nada consta sobre o domingo como dia de repouso. Há, todavia, inúmeras informações de que a igreja reunia-se aos sábados para adoração. O escritor batista Isaltino Coelho Filho, ao comentar sobre o quarto mandamento, honestamente admite isto:
... embora estejamos falando do domingo como um dia reservado para o culto comunitário, entre os cristãos, não temos um mandamento específico, no Novo Testamento, para adorar a Deus, num dia específico´´ [6].

Atos dos Apóstolos, especialmente, registra que os crentes, quer fossem judeus, quer fossem gentios, tinham o hábito de se reunirem para adoração ou aprendizado sempre aos sábados:
Mas eles, atravessando de Perge para a Antioquia da Pisídia, indo num sábado à sinagoga, assentaram-se. (At 13:14) Ao saírem eles, rogaram-lhes que, no sábado seguinte, lhes falassem estas mesmas palavras. (At 13:42) No sábado seguinte, afluiu quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus. (At 13:44) Atos 16:13 - No sábado, saímos da cidade para junto do rio, onde nos pareceu haver um lugar de oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres que para ali tinham concorrido. - Paulo, segundo o seu costume, foi procurá-los e, por três sábados, arrazoou com eles acerca das Escrituras. Atos 17:2 E todos os sábados discorria na sinagoga, persuadindo tanto judeus como gregos Atos 18:4. Diante de tantas evidências internas, é mais lógico concluir que o dia de culto da igreja do primeiro século era o sétimo e não o primeiro da semana.

CONCLUSÃO: É maravilhoso quando a Bíblia é estudada à luz da verdade. Dizemos isto, porque ela mesma nos avisa que muitos a estudam para contradizê-la (Rm 16:17-18; II Tm 4:3-4). Nesta lição, conhecemos os argumentos contrários à verdade, mas pudemos saber que a verdade surge absoluta quando comparada com os ensinos contraditórios. Agradeçamos a Deus pela luz que temos da verdade e que ela continue iluminando o nosso caminho na vida cristã. Continue estudando e aprendendo com a Bíblia.

QUESTIONÁRIO

03. Por que At 20:7 não serve para defender o “primeiro dia da semana” como o dia de culto? Baseie-se no comentário.

04. A expressão partir o pão pode ser entendida como uma alusão à celebração da Ceia do Senhor?

05. O texto de Jo 20:26 pode ser usado como prova de que os discípulos adoravam no primeiro dia da semana? Explique.

06. Com base em I Co 16:2, responda: Esse texto ensina que a igreja de Corinto tinha hábito de adorar a Deus no domingo? Fundamente-se no comentário.

07. O que o livro de Atos dos Apóstolos tem a nos revelar sobre o dia de adoração dos cristãos da igreja primitiva?

________________________________________

[1] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos, 1998, vol. 03, p. 436.

[2] STAGG, Frank. Atos: a luta dos cristãos por uma igreja sem fronteiras. Rio de Janeiro: Juerp, 1994, 3a edição, p. 200.

[3] John R. W. STOTT, A Mensagem de Atos, São Paulo, ABU, 1990, p. 360.

[4] Waldyr Carvalho LUZ, O Novo Testamento Interlinear, São Paulo, editora Cultura Cristã, 2003, p. 463.

[5] GINGRICH, F. W & DANKER, F W. Léxico do Novo Testamento Grego/Português. São Paulo: Vida Nova, 1984 , p. 185.

[6] FILHO, I. G. C. A Atualidade dos Dez Mandamentos, p.96. (COMPLETAR CITAÇÃO)
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